Para os seis participantes nesta mesa não se tratava, obviamente, de dar resposta a esta pergunta, ainda que ao moderador, Pedro Eiras, não tenha escapado as multiplicidades de palcos para as palavras, incluindo os metafísicos. Passando para territórios mais concretos e, por isso mesmo, mais acessíveis à abordagem numa mesa deste género, o que se procurou foi analisar a relação da palavra com o teatro.

Convidada a abrir o debate, Ana Benavente, investigadora na área da sociologia da educação, optou por levar a discussão para a área que melhor domina: o ensino. E para isso optou, como referiu, por abordar o tema dividindo-o em duas partes: a palavra e o palco. Num discurso bastante directo e contundente, até, Ana Benavente começou por afirmar: “para mim, a palavra é acção. Nunca dizemos nada por acaso ou para nada dizer. Mesmo quando falamos para preencher um silêncio temos um objectivo.” Consequentemente, para a autora, “palavra é também poder”.

E, para demonstrar esse poder da palavra, Ana Benavente escolheu dois palcos que, como afirmou, muito bem conhece: “ a escola e a política”. Analisando separadamente estes dois palcos, Ana concluiu da interdependência em que coexistem as palavras e os seus palcos e, para concluir a sua intervenção, afirmou: “as palavras somos nós e aquilo que delas fazemos”.

Maria do Céu Guerra encarna o tema em debate. A sua vida é o palco, a sua vida são as palavras. Falar destas realidades poderá, portanto, parecer fácil, mas a actriz reconhece a multiplicidade de abordagens possíveis e a necessidade de tentar sistematizar esta ligação entre as palavras e o palco que ela tão bem conhece, o do teatro.

“Para mim, enquanto pessoa por quem as palavras passam, o texto é uma parte importantíssima do acto teatral” – foi por aqui que Maria do Céu Guerra começou a sua intervenção, que logo enriqueceu acrescentando: “o texto teatral é o mais preguiçoso de todos, porque é aquele em que encenadores e actores têm tanto ou mais que fazer do que o próprio autor”. E é este processo de “tratamento” que acaba por dar complexidade e riqueza ao texto teatral que, como concluiu a actriz, “é um jogo fascinante, porque, quando eu estou em cena, o encenador dá o ritmo do texto e a minha respiração é o retrato do ritmo desse texto.”

Nesta mesa participaram ainda Jacinto Lucas Pires, autor teatral, Jaime Rocha, autor de várias obras de poesia, ficção e teatro, José Leitão, programador de vários festivais de teatro, actor e encenador.

O Correntes d´Escritas prossegue com o lançamento, às 17h00, dos livros “O Regresso do Paladino”, de António Sarabia, e “Quarto Escuro”, de Inês Leitão.