Este foi um Serão
Castrejo, o segundo de um ciclo de serões organizados pelo Museu Municipal e
que integram a iniciativa designada “Sabores da História”.

Para Luís
Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, que participou nestas “viagens ao
passado”, este “é um evento diferente, tem outro sabor. Em vez de um
supermercado da História é uma loja gourmet,
onde encontramos o travo de outros sabores”.

O autarca afirmou
que através destas recriações “estamos a viver o Passado que gostávamos de ter
vivido. É uma brincadeira para adultos”, metaforizou. Luís Diamantino referiu
que, para além da vertente lúdica da refeição, música e convívio, o evento tem
um carácter pedagógico porque conta sempre com uma conferência que nos ajuda a
compreender melhor a época revivida. E sobre a conferência proferida por
Armando Coelho da Silva sobre a Proto-História no Noroeste Peninsular, o
Vereador afirmou que “vamos sair daqui mais conhecedores e mais ricos, com o
espírito alimentado e o desejo de saber saciado”.

Armando Coelho da
Silva é uma das figuras mais marcantes da nossa arqueologia e a ele se deve reinício
das escavações, em 1980, na Cividade de Terroso, fazendo com que a arqueologia
renascesse no concelho, depois de Rocha Peixoto. E para falar sobre os povos
que aqui habitaram, o especialista em Proto-História, fez uma leitura
arqueológica da Geografia de
Estrabão. “Muitas das palavras que Estrabão escreveu podem não ter sido bem
reproduzidas pelos monges”, constatou, acrescentando que “houve autores
clássicos que vieram à Península Ibérica mas Estrabão não, no entanto, a
principal e mais importante fonte histórica desta região veio deste geógrafo e
escritor que se terá servido do conhecimento de outros”. O arqueólogo alertou
ainda para o facto de “muitos dos textos que Estrabão reporta a esta gente têm
que ser vistos com muita calma tendo em conta que ao exaltar a civilização
romana, refere-se aos habitantes do Noroeste Peninsular como “montanheses”, uma
designação com carácter depreciativo, conotando-os com povos mais primitivos”.
Para além disso, há passagens em que diz que os castrejos não tinham vinho e
critica o facto de fazerem pão de bolotas, continuou.

Outro pormenor
interessante sobre a vida nos castros do Noroeste revelado por Armando Coelho
da Silva foi a constituição da casa e as suas características: eram um conjunto
de unidades, tinham bancos ao redor, 22 lugares, o que permite concluir que as
famílias eram extensas. Quanto às tradições familiares, Estrabão refere que
viviam num “regime de matriarcado”, que o arqueólogo afirmou não corresponder à
verdade porque os textos epigráficos têm o nome do pai e, na prática, quem
mandava na família era o tio, irmão da mãe. O que Estrabão quererá dizer é que
o dote está na mulher e é transmitido por via feminina, explicou.

O arqueólogo
referiu-se ainda a outra citação de Estrabão onde é descrito um banho, espécie
de acto de regeneração para iniciação de jovens guerreiros, mas trata-se de uma
frase mal traduzida do grego porque as fontes não são muito claras, constatou.

Armando Coelho da
Silva transmitiu que os textos de Estrabão podem ser completados e corrigidos
com achados arqueológicos, muito mais quando se trata de um período da
Proto-História, ou seja, a Primeira História de povos sem escrita.

Saciado o espírito com estes ensinamentos de
Armando Coelho da Silva, seguiu-se a degustação de algumas iguarias inspiradas
na alimentação da Idade do Ferro, com animação musical pelo grupo Jogralesca.