O júri, composto por Patrícia Reis, Carlos Vaz Marques, Dulce Maria Cardoso, Fernando J.B. Martinho e Vergílio Alberto Vieira, escolheu, entre 160 livros submetidos a concurso, dez obras finalistas. Eram elas: A Eternidade e o Desejo, de Inês Pedrosa; A Mão Esquerda de Deus, de Pedro Almeida Vieira; A Sala Magenta, de Mário de Carvalho; Myra, de Maria Velho da Costa; O apocalipse dos trabalhadores, de valter hugo mãe; O Cónego, de A. M. Pires Cabral; O Mundo, de Juan José Millás; O verão selvagem dos teus olhos, de Ana Teresa Pereira; Rakushisha, de Adriana Lisboa e Três Lindas Cubanas, de Gonzalo Celorio.

Maria Velho da Costa vence o Prémio Literário Casino da Póvoa depois de Lídia Jorge, com O Vento Assobiando nas Gruas (2004), António Franco Alexandre, com Duende (2005); Carlos Ruíz Záfon, com A Sombra do Vento (2006); Ana Luísa Amaral, com A Génese do Amor (2007); Ruy Duarte de Carvalho, com desmedida (2008); e Gastão Cruz, com A Moeda do Tempo (2009).

O Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, é o único prémio de cariz internacional que, em Portugal, ultrapassa as fronteiras da Língua Portuguesa.

Maria Velho da Costa é licenciada em Filologia Germânica, foi professora no ensino secundário e membro da direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Tem o Curso de Grupo-Análise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria e foi membro da Direcção e Presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de 1973 a 1978. Foi leitora do Departamento de Português e Brasileiro do King’s College, Universidade de Londres, entre 1980 e 1987. Tem sido incumbida pelo Estado português de funções de carácter cultural: foi Adjunta do Secretário de Estado da Cultura em 1979 e Adida Cultural em Cabo Verde de 1988 a 1991. Desempenhou ainda funções na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e trabalha actualmente no Instituto Camões.

Consagrada, já em 1969, com o romance Maina Mendes, tornou-se mais conhecida depois da polémica em torno das Novas Cartas Portuguesas (1971), obra em que se manifesta uma aberta oposição aos valores femininos tradicionais. Esta publicação claramente anti-fascista e altamente provocatória para o regime, levou as suas três autoras a tribunal, tendo o 25 de Abril interrompido as sanções a que estavam sujeitas as denominadas 3 Marias: Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno.

Às teses de reivindicação feminina já enunciadas em “Novas Cartas Portuguesas”, acrescenta-se, na sua obra, um inconformismo quanto aos cânones narrativos, inconformismo esse que se pode verificar também na sua obra de ensaio.

Sobre a obra vencedora: Myra é uma rapariga russa que deambula pelas paisagens tristes do Portugal contemporâneo, em fuga rumo ao Sul, mas com esperanças de voltar ao Leste de onde emigrou. Durante a longa jornada iniciática, sempre com um Pitbull Terrier por perto, ela revela um extraordinário instinto de sobrevivência, feito de “manha e força”. Conforme as circunstâncias, ora cita Camões, ora fala como a “lerdinha” que não é. E assim vai avançando por entre “criaturas íngremes”, através dos vários círculos do Mal, num mundo cheio de “dor e dano”.
A primeira parte do romance é composta por uma sucessão de encontros on the road: com um camionista alemão, amante de uma pintora desbocada que faz lembrar Paula Rego; com um padre, heterodoxo ao ponto de dizer que “a castidade é porca” (enquanto transporta na sua carrinha uma mulher a morrer de SIDA); com um marinheiro cego e maneta chamado Alonso (como o herói do Quixote); entre outras personagens menores. Isto até descobrir Orlando/Rolando, um “rapaz pardo” que lhe aparece todo vestido de branco junto a um Land Rover também branco, “parado como um dócil corcel expectante”. A partir daqui, a história como que estaca na esfera deste cabo-verdiano, a quem Myra se entrega num idílio amoroso, cortado cerce por uma cena de carjacking que precipita de vez a acção no mais sórdido sub-mundo do crime.

O Prémio será entregue no sábado, na Sessão de Encerramento do Correntes d’Escritas.