História da «francesinha» na Póvoa de Varzim

A introdução da francesinha na Póvoa está ligada à casa Guarda-sol, estabelecimento emblemático da cidade, que teve a sua origem nos anos 20, a partir de uma ideia seu proprietário de construir um grande guarda-sol na praia para funcionar como esplanada. Da construção inicial, amovível e de cobertura de pano, passou-se a uma construção mais sólida, evocando sempre a forma que lhe deu o nome – o guarda-sol.

Em 1962, a gerência do estabelecimento pretendia dinamizá-lo, apostar em novos produtos, pelo que procurou recrutar um funcionário que estivesse ao corrente das últimas novidades. Não é surpreendente que o tenha feito em Lisboa. Na sequência dessas diligências, em Julho de 1962 contratou António Pires Nunes Carriço, então a trabalhar em Cascais, na primeira casa Self-service do país, como especialista de snack, a troco de um apetitoso ordenado.

António Carriço, natural do concelho do Fundão, aos 12 anos tinha ido para Lisboa e, aos 20, viajou até à Póvoa, tendo justificado plenamente a aposta que Alberto Moreira fez, pois para além de conhecedor do mester, revelou-se uma pessoa empreendedora, de tal forma que o convite inicial de 3 meses arrastou-se até 1969.

Conforme conta António Carriço, quando cá chegou desconhecia o que eram as “francesinhas”, mas a forma sugestiva como ouvia falar delas fê-lo indagar sobre o assunto. Praticamente no início da sua estada, foi ao Porto com Alberto Moreira, um dos gerentes do Guarda-sol, numa ação de “espionagem”. Foram a duas casas comer o petisco com a preocupação de avaliar os seus componentes. As francesinhas no Porto, nessa altura, eram apresentadas em pão bijou, cobertas com queijo e molho. Quando chegou a casa foi experimentando a confeção do molho até obter um resultado satisfatório. Quanto ao pão a usar, teve a iniciativa de pedir ao padeiro que fornecia o estabelecimento um pão em forma de cacete, macio e suculento. Esse pão passou a ser conhecido por “pão de francesinha”. O recheio da francesinha era composto por fiambre, queijo, linguiça, manteiga e mostarda. O pão era barrado por cima com o molho “de francesinha” e ia à infra, ficando com um aspeto dourado. Era comida à mão, inicialmente embrulhada em guardanapo de pano e só nos anos 70 é que se passou a usar o guardanapo de papel.

Entretanto, a pedido dos clientes, o Guarda-sol passou também a apresentar a “francesinha” mais à moda do Porto, isto é, mantinha o pão cacete e os mesmos ingredientes mas era coberta com queijo e muito mais molho, servida num prato para ser comida de garfo e faca. A existência de dois tipos de francesinha levou à necessidade de as diferenciar, passando a usar-se o termo “francesinha normal” para a que era comida à mão e “francesinha especial” ou “francesinha no prato” para a que era comida de faca e garfo. Em 1987, exclusivamente para este último tipo de francesinha, começou a usar-se o pão de forma. Atualmente existem as duas versões.

Na sequência desse êxito ligado à casa Guarda-Sol, outros estabelecimentos começaram a apresentar a francesinha, tendo tido também um papel importante na afirmação do produto nesta cidade. É o caso do Predilecto (em 1966), do Mata e do Zé D’Amura (nos anos 70). A cada um cabe a “reinvenção” da receita, fazendo o cliente a opção pelo resultado que melhor satisfaz os seus gostos.

Atualmente é fácil encontrar a francesinha nos cafés e snacks do concelho. As duas versões são igualmente consumidas mas com finalidades algo diferenciadas. A “francesinha normal” tem um carácter de lanche ou pequena refeição, muitas vezes consumida já noite dentro, e a “francesinha especial” ganhou estatuto de refeição principal. Muitos dos estabelecimentos reforçaram-lhe o recheio com bife ou ovo e as imprescindíveis batatas fritas, quase sempre servidas de forma a serem saboreadas com o molho da francesinha.

 

 

Receita original da francesinha “poveira”

Ingredientes

Pão caceteFiambreQueijoLinguiçaMostarda q.b.Manteiga composta

Ingredientes da manteiga composta

250 gr. de manteiga;250 gr. de manteiga vegetal;125 gr. de ketchup de tomate; 3 cl. de Porto Seco

3 cl. de Brandy; Piri-Piri q.b.;Sal q.b.

Preparação da manteiga composta

Colocam-se todos os ingredientes numa batedeira. Bate-se lentamente e aumenta-se a velocidade à medida que os componentes fiquem ligados parecendo uma mousse.

Preparação da francesinha “poveira”

Corta-se o pão ao meio a todo o comprimento. Coloca-se no fundo, duas fatias de fiambre, quatro bocadinhos de linguiça e tosta-se numa infra ou grelhador; em seguida, acrescenta-se mostarda e quatro fatias de queijo; quando o queijo estiver derretido, coloca-se em cima a outra metade de pão, ligeiramente tostado e barrado com a manteiga indicada; tosta-se e serve-se com tom dourado.

OBS.: Não deve ser prensada para ficar mais fofa e suculenta.

 

Receita fornecida por António Carriço