A sessão de insigniação decorreu no Salão Nobre dos Paços do  Concelho, à qual se seguiu um desfile desde a Praça do Almada até ao Monumento à Peixeira, e almoço no Hotel São Félix.

Aires Pereira, Vice-Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e Confrade Honorário 2012, assegurou que “nós temos a melhor cozinha do mundo. Cuja pureza e autenticidade foi, não há muito, objeto de uma ofensiva descaracterizadora, que, sob pretextos higiénicos, pretendia, de facto, pôr-nos a todos, no espaço europeu, a ingerir mistelas desenxabidas como as que, rotineira e apressadamente, enchem as barrigas do centro e do norte da Europa. E foi a ação que, um pouco por todo o país, as Confrarias Gastronómicas empreenderam em defesa da cozinha portuguesa”.

Para o Vice-Presidente, “a gastronomia, singular mundo de saberes que se traduz em sabores e em cheiros inconfundíveis e únicos, é uma das marcas maiores da nossa identidade como país”. Assim sendo, advertiu que “é importante que se preserve e se valorize, como contributo nosso para uma Europa que querem formatar sem estes frutos do sol, da água mais quente, dos campos mais verdes e, sobretudo, de corações mais afetuosos”.

O Confrade Honorário está convencido que “espanta os atuais mandantes da Europa que um país tão pequeno seja, também na sua comida, um país tão diverso e tão rico. Espanta e causa inveja. É que à diversidade geográfica corresponde igual diversidade gastronómica, com manifestações tão autênticas que, apesar da proximidade, parecem expressão de outro país. Tal como para o país, também para cada cidade, ou região, a gastronomia é expressão de diferença e, portanto, de identidade. As terras devem cultivar, e valorizar, aquilo que as distingue, aquilo que as torna atrativas. Porque, se fossem iguais, se oferecessem os mesmos motivos de interesse, seriam ignoradas e desprezadas”.

Neste sentido, Aires Pereira assinalou que “a Póvoa de Varzim fez, nos últimos anos, uma das mais profundas transformações urbanísticas de que há memória em Portugal. O corpo da cidade, sendo o mesmo, é outro: a cidade readquiriu escala humana, tornou-se mais atrativa, reconciliou-se com o Mar onde teve origem. A alma da cidade, que parecia perdida aos escombros do desatino que antes reinava, voltou a manifestar-se e os Poveiros voltaram a ter orgulho em se dizer Poveiros”.

O Vice-Presidente referiu que “o mar voltou a ser nosso, voltou a estar perto. O mar, que estava na origem desta comunidade, quer voltar em força ao ADN da nossa gastronomia. Servido não apenas em forma de pescada, mas todos os outros peixes que o nosso mar dá, e de cuja confeção temos sábios artesão com as suas receitas ancestrais. A Póvoa precisa de ter mais peixe no prato, precisa que o peixe volte a ser razão de visita – não só para comprar em cru, mas para degustar nos nossos restaurantes”.

Por último, deixou o desafio: “que impulsioneis o regresso, em força, dos peixes da nossa costa aos cardápios dos nossos restaurantes. Que a Póvoa volte, em força, a cheirar a peixe”.

Lucinda Delgado, Vereadora do Pelouro do Desenvolvimento Socioeconómico, que também foi entronizada nesta cerimónia, afirmou que “a Póvoa de Varzim é uma cidade aberta para o mundo, ideal para viver e para o lazer. Voltada para o oceano atlântico, possui uma excelente frente marítima, com um apetecível areal, facilmente acessível. É servida por ótimas estruturas, incluindo o Monumental Casino, local de maior referência, vários hotéis, restaurantes, bares, equipamentos desportivos e áreas de lazer. A praia e a longa marginal, espaços privilegiados para o veraneio, são animadas ao longo de todo o ano por diferentes atividades, para além de serem sempre um contexto apetecível para um passeio descontraído. O poveiro adora sair e sabe desfrutar de forma intensa da sua cidade”.

A autarca considera que “as raízes desta terra estão desde sempre ligadas ao mar e a uma enseada acolhedora para a faina da pesca. Apresentando-se como uma cidade moderna não esquece, no entanto, o valor da sua cultura tradicional. Desta herança cultural, a gastronomia reflete por excelência a combinação da pesca e da agricultura, donde se destacam os produtos hortícolas oriundos dos «campos de masseira», uma original técnica de cultivo. Aproveitando o melhor das duas atividades e beneficiando da influência minhota, por aqui se desenvolveu uma interessante fusão de sabores”.

A Vereadora responsável pelo Turismo, afirmou que “nos muitos e bons restaurantes da cidade pode-se saborear desde os pratos mais tradicionais como a «Pescada à Poveira», a «Caldeirada de Peixe», o «Arroz de Sardinhas» aos mais inovadores, utilizando muitas vezes o marisco, o polvo e carnes variadas. À sobremesa, a tentação recai sobre a «Rabanada à poveira», ex-líbris da doçaria local. Alicerçada nesta diversidade nasceu a «Confraria dos Sabores Poveiros» que, abraçando a Pescada e a Rabanada à Poveira, pratos inspirados nos costumes da tradicional classe piscatória, como os seus sabores de referência, caminha no sentido de preservar as memórias e fazê-las chegar ao conhecimento de todos, estudando e divulgando os pratos tradicionais, fixando as características básicas e típicas das receitas e procurando enquadrar as novas tendências gastronómicas nos antigos paladares”.

José de Azevedo, Presidente da Confraria “Sabores Poveiros”, citou um político que dizia «um país que não preserve a sua história, é um país que não cuida do seu futuro» para referir que “é essa a razão da nossa confraria: preservar as nossas raízes e tradições, o mesmo que dizer, a nossa cultura e a nossa identidade”. Neste sentido, explicou que “o nosso primeiro objetivo foi assegurar a valorização da nossa cultura popular, neste caso, ligada à gastronomia”.

O jornalista poveiro considera que “mais que um trunfo turístico, aposta-se no poder criativo do empresário da restauração. A cultura confunde-se com aquilo que somos. A par da etnografia, antropologia, manifestações artísticas, literárias e culturais, a gastronomia pode ser e deve ser o seu bilhete de identidade. Saber o que se come e porque se come é mergulhar um pouco na história local”.

Assim sendo, José de Azevedo revelou que “a Pescada e a Rabanada à Poveira são dois tesouros gastronómicos que a Confraria “Sabores Poveiros” apostou em, preservar e divulgar. Durante um ano, tentou sensibilizar os restaurantes a respeitar as receitas e confecionar como faziam antigamente”.

O Presidente da Confraria assumiu que “são as Confrarias que, sem favores estatais, lutam por conservar a identidade das suas localidades e trazer para o grande público um pouco da sua história e, principalmente, a sua riqueza gastronómica. O aparecimento das Confrarias, hoje espalhadas pelo país, marca um ponto de viragem no turismo gastronómico regional, sobretudo na divulgação dos prazeres da mesa escondidos nos sabores tradicionais de cada região”.

José de Azevedo considera que “é necessário dar a conhecer a força e riqueza das Confrarias que merecem reconhecimento público”, realçando que “o sucesso da Confraria “Sabores Poveiros” está na mão de todos os poveiros. Basta que honrem o compromisso de exigir autenticidade das suas tradições, neste caso, rigor na confeção da Pescada e Rabanada à Poveira”. Por fim, deixou o apelo “respeitem e divulguem a culinária local” e as boas-vindas aos novos membros “sejam bem-vindos novos guardiões da história poveira”.

Isabel Castro, em representação do Turismo Porto e Norte de Portugal, também participou da cerimónia reconhecendo as Confrarias como um elemento fundamental no levantamento, preservação e divulgação de produtos.

Destacou, ainda, o trabalho que o Município da Póvoa de Varzim tem feito, assumindo-se como parceiro estratégico do Turismo Porto e Norte de Portugal e referiu a disponibilidade das Lojas Interativas de Turismo para promover o nosso rico e vasto território.

Para além dos 17 novos confrades e a par de Aires Pereira, Joaquim Cancela foi insignado Confrade Honorário 2012, cargo que assumiu com imensa satisfação e emoção.

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