O tema “Escritas no vento, a universalidade da literatura” levou o poeta Nuno Júdice a citar Miguel Torga: “O universal é o local sem os muros”. A ideia de “literatura do mundo, universal” apresentada por Goethe suscita dúvidas. “Não sei se acredito muito nesta ideia de universalidade”, disse Nuno Júdice, explicando que, para si, “a universalidade não é uma fórmula, uma receita para encontrar o mínimo denominador comum” dos títulos da “literatura de aeroporto”. Mais importante que o nome de um livro, ou o do seu autor, é a capacidade de falar aos outros, de deixar marcas, como as deixadas pela Cantiga de Amigo (do século XIII) que Nuno Júdice leu.

“Desisti de falar a toda a gente, de ser universal. Falo para mim, no espaço onde estou que é o espaço do meu universo”, confidenciou ao muito público que o ouvia atentamente.

A universalidade da literatura foi também questionada por Eduíno de Jesus que considera as línguas “fronteiras” que separam as literaturas nacionais. E “essas fronteiras são intransponíveis”, impedindo, por exemplo, um leitor português de ler um poema de um escritor russo. No entanto, pode existir universalidade, afirmou Eduíno de Jesus, “no sentido que os textos transportam”.

Margarida Vale de Gato, tradutora de inglês e francês para português, que está a preparar o seu primeiro livro de poesia, defendeu que “Um enredo não faz necessariamente uma obra literária. O tema (o amor, a guerra, a loucura) também não”, pelo que a universalidade, disse, não é “uma existência”, é antes “uma aspiração”. Quem escreve expressa-se individualmente porque acha que tem “coisas a dizer ao mundo. Referindo-se ao Correntes d´Escritas, Margarida Vale Gato aludiu ao facto “maravilhoso” que permite o encontro entre escritores jovens e consagrados.

Mais informações sobre as últimas iniciativas do Correntes d´Escritas 2009 estão disponíveis no portal municipal.