Amalia Decker Márquez, uma das participantes na mesa de debate, viu essa esperança nas palavras: “Apesar de o mundo viver emergido em guerras, aqui estamos para falar de esperança”. Uma esperança que será “sempre renovada, por gente valente que denuncia as atrocidades”. O próprio Correntes d’Escritas é, para a autora boliviana, um sinal claro de esperança, como espaço de reunião de escritores de línguas irmãs, mas diferentes. E afirmou “a palavra pode mudar o mundo”.

Num registo diferente, mas mesmo assim sinal de esperança, Santiago Roncagliolo contou como o seu livro, lançado em Portugal durante o Correntes d’Escritas, Abril Vermelho se baseia no ambiente de guerrilha no Peru, seu país natal. Inicialmente com medo das reacções que a obra fosse suscitar entre militares e terroristas, Roncagliolo contou que os militares lhe perguntaram como conseguiu contar a história de uma forma tão imparcial, se afinal eram eles, os militares, os «bons» da história. Uma pergunta repetida pelos terroristas.

Hélia Correia analisou também a questão da literatura e da esperança do ponto de vista do leitor, dizendo que “a literatura tem-nos feito algum bem, mas normalmente a leitura é mais perniciosa”. E referiu a literatura grega, onde “havia a noção de que o Homem criava”.

Rui Zink, com o seu humor muito característico, afirmou “não sei se a literatura dá esperança, mas sei qual a literatura que salva: a literatura médica”.  E disse ainda, numa tirada que arrancou gargalhadas à plateia “a diferença entre poetas e escritores é que ao menos nós fingimos falar dos outros”.  E onde está a esperança? Para Zink talvez ela esteja em não ler o sentido literal dos textos, afirmando ainda “Eu encontrei sempre esperança em textos desesperançados, é o paradoxo da literatura”.

Paradoxal foi Enrique Vila-Matas. O escritor espanhol conquistou o público falando… do seu medo de falar em público. O que muito divertiu o público, juntamente com a boa disposição de Onésimo Teotónio de Almeida, moderador da mesa.