Mas, mais do que ficar a conhecer os livros, é a oportunidade de conhecer os autores e o que eles têm a dizer sobre as suas próprias obras que se torna tentadora.

Com o seu Abril Vermelho, Santiago Roncagliolo regressa ao seu Peru natal para abordar o terrorismo e as guerras entre as forças da guerrilha e o Estado, momentos dramáticos da história do país mas que, de acordo com o autor, : “são também a imagem de tantas guerras que temos por todo o mundo”. Um livro sobre guerra e morte e sobre um investigador que nada quer, na realidade, investigar porque por trás dos mortos está a história de violência do seu próprio país.

Ana Benavente e Maria Manuel Viana juntaram-se para escrever Damas, Ases e Valetes, um livro que, de acordo com Ana Benavente, “não tem reis porque cabe a cada um descobrir o seu ou os seus reis e fazer os seus percursos”. A partir da história de duas mulheres com percursos de vida diferentes – uma dedicada à reclusão, outra que opta andar pelo mundo enfrentando todos os perigos – se constrói uma história humana e se descobre o diálogo enriquecedor da troca de experiências entre modos de vida tão díspares.

Escondido atrás do personagem central do seu livro, Enrique Vila-matas vestiu a pele do Dr. Pasavento para falar de Dr. Pasavento. O livro sintetiza, nas suas 389 páginas, o desafio do “não ser”, da necessidade de se apagar e desaparecer: “é a aventura de um homem que fica só e viaja até ao fim numa busca que nunca acaba. Não é mais do que, de acordo com o autor catalão, uma desculpa para levar o leitor para um mundo de fantasia, onde a realidade recorda permanentemente as limitações do ser humano”.

Enterrar os Mortos é o terceiro livro que Ignacio Martinez de Pisón apresenta na Póvoa, depois de Maria Bonita e de O Tempo das Mulheres. Num livro que mistura reportagem histórica e investigação detectivesca, o jornalista e escritor Ignacio Martínez de Pison recria a biografia de José Robles Pazos – um republicano convicto que nunca pertenceu a um partido político e que morreu nos cárceres stalinistas de uma Espanha mergulhada na guerra civil – com base na amizade deste com o escritor norte-americano John Dos Passos. A obra revela uma Europa em crise, no período entre as duas Guerras Mundiais (1918-1939), o desencanto de intelectuais com o capitalismo e as disputas políticas entre democratas, fascistas e esquerdistas de vários matizes. Mas fala também de inquietações culturais, de pequenas conspirações e de solidariedade.

Para falar do seu Manual para Amantes Desesperados, Ana Paula Tavares optou por não dizer muito mais do que dirigir um sincero agradecimento à sua editora, aos seus amigos e a Luandino Vieira pela concepção da capa. E como a poesia de que é feita esta obra diz, com certeza, mais do que qualquer apresentação, como a própria autora tão bem sabe, fica um excerto:

“Deixa a mão pousada na duna/ Enquanto dura a tempestade de areia/ A sede colherá o mel do corpo/ Rensceremos tranquilos/ De cada morte dos corpos/ Eu em ti/ tu em mim/ O deserto à volta.”