E se, na passada sexta-feira, Richard Zimler esteve no recinto para uma sessão de autógrafos e João Manuel Ribeiro, fez leituras para crianças, Afonso Cruz, Carlos Quiroga, João Tordo, Paulo Ferreira e Rosa Alice Branco reuniram-se, no Diana Bar, para uma conversa moderada por Luís Ricardo Duarte.

“As histórias só acontecem àqueles que as sabem contar” foi o mote da tertúlia que levou os participantes a reflectirem, partilharem histórias e exprimirem diferentes pensamentos suscitados.

Afonso Cruz ora concordou ora discordou da afirmação porque se numa primeira abordagem disse que não lhe acontecem histórias depois reconheceu que as histórias só acontecem a quem as conta. “Toda a nossa vida é porque sentimos ou vemos. A vida é uma percepção. É por isso que nós existimos”, constatou, acrescentando que “para se perceber uma boa história tem que se ter sensibilidade”. Referiu ainda que escreveu dois romances que se basearam em situações verídicas e o que retemos na memória são coisas extraordinárias, não são banalidades, logo, “temos poucas para salvar”. O autor de O Pintor debaixo do Lava-loiça afirmou que os leitores exigem mais verosimilhança dos livros do que da vida real e sobre a pretensa das suas obras considera que se por um lado é “minha propriedade intelectual”, por outro “não somos donos de nada na vida”.

Carlos Quiroga referiu que “a frase permite todo o tipo de devaneios” e recorreu ao poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa para fundamentar a sua perspectiva de que “o escritor é um mentiroso profissional que tem que fingir para transformar a obra em arte”. Para o escritor galego, “a literatura tem a virtude de mergulhar na profundidade. O máximo da literatura é a realização daquilo que não existe”.

João Tordo confessou que “percebi que a minha vida só fazia sentido se escrevesse e desde novo que fui escrevendo no papel as minhas histórias”. Para o escritor formado em Filosofia, “contar histórias, e conseguir que tenham ressonância para nós, é a arte mais complicada de todas”. No entanto, disse que “todos podemos ser contadores de histórias”. A realidade não é tão interessante como a ficção, constatou, acrescentando que através da escrita “podemos deturpar a realidade, colocarmo-nos no livro ou não, podemos enganar o leitor”, o que confere liberdade aos ficcionistas.

Paulo Ferreira partilhou uma história com o público que, pela importância que tinha, o levou a refutar a frase “as histórias só acontecem àqueles que as sabem contar”, tanto mais quando “tenho a certeza que vivi boas histórias e não sei se escreverei bem”. Para o escritor e editor, “é muito bom termos a escrita para fazermos a catarse de coisas más em coisas boas”.

Também Rosa Alice Branco relatou um conto da sua autoria e revelou que “nasci no reino das histórias, o que não significa que as saiba contar”. A escritora confessou que tem uma relação imensamente feliz com a escrita e, na sua opinião, “o que nos acontece são acontecimentos que podemos os não transformar em histórias”, acrescentando que “quem transforma um acontecimento numa história, confere uma vida acrescida”.