Para o músico, escrever uma canção é um trabalho completamente diferente de escrever um livro, já que “de um formato condensado, onde com uma cesta de tomates temos que fazer um frasco de ketchup, passamos para um formato mais livre, onde temos todo o espaço para passar a nossa mensagem. Escrever músicas faz-nos ter vícios de raciocínio, de metáforas”. Sobre os sentimentos que transmite nas suas canções, Represas explicou que “penso que estou a escrever sobre determinado tema, mas quando está tudo terminando, apercebo-me do que realmente estava a sentir”.

Com A Coragem de Tição, Luís Represas junta dois mundos onde se sente muito à vontade, o mundo do mar, “um sítio maravilhoso em que nos sentimos extra-terrestres” e o mundo dos cavalos, “animais extraordinários, mas trapalhões”. A personagem principal do livro é um cavalo-marinho, “um ser vivo com uma personalidade incrível. Vivem em família, numa comunidade, com pai e mãe. A partir desse conceito a história começou a surgir”.

O cantor confessou que “nunca me passou pela cabeça fazer um livro para crianças. É algo tão difícil quanto perigoso, pelo falhanço que poderá ser e pela mensagem que transmitimos. Quis divertir-me inventando esta história, onde, enquanto escrevia, imaginava-me sendo a personagem principal e os restantes animais são todos meus amigos”. Com o desenrolar da história surgem os valores que “todos queremos transmitir aos nossos filhos. A amizade, a solidariedade, a responsabilidade pelos nossos actos e que, no final, acaba por ser uma história de amor, de entrega. Quando eu era criança, eu perguntava ao meu pai ‘Porque não?’, ao que ele me respondia ‘Porque sou mais velho e sou teu pai!’. É preciso explicar o porquê. Se proibirmos por proibir, as crianças não entendem as consequências das suas acções. Se explicarmos porquê que não podem fazer determinada coisa, se a fizerem, vão ser responsabilizados”.

Quanto às ilustrações, Luís Represas elogiou a autora, Catarina França, que só conheceu no dia do lançamento: “Assim que vi os primeiros desenhos fiquei muito feliz. Eram exactamente aquilo que imaginava e queria”. Carla Pinheiro, editora da D. Quixote, foi quem juntou a ilustradora com o, agora, escritor. “Vi uma pequena ilustração de um cavalo-marinho e pensei que era a pessoa ideal para este trabalho”, comentou. A editora também afirmou que este livro tem uma madrinha, Patrícia Reis. A escritora, amiga de Luís Represas, enviou para a editora A Coragem de Tição, que surpreendeu Carla Pinheiro, que leu a obra de um só fôlego. “É uma história cheia de sensibilidade e sentido de humor com uma moral bonita, mas não escrita de forma moralista. Todos nós, a certa altura, metemos o pé na poça”, sublinhou a editora.

Luís Diamantino, vereador do Pelouro da Cultura, aplaudiu o facto de Luís Represas estar a fazer “um périplo por escolas de vários concelhos do Norte. O público mais jovem é exigente e merece a atenção dos escritores”. O autarca não deixou de convidar o músico para estar presente na próxima edição do Correntes d’Escritas, que garantiu estar presente caso nenhum concerto o impeça.

Dadas todas as explicações acerca da obra, foram muitas as pessoas que quiseram falar com Represas, que faz questão “de tratar toda a gente por tu”. Distribuindo autógrafos e sorrisos, o cantor encantou o público que, além de fã do seu percurso musical, ficou, com certeza, fã do seu primeiro livro.