Inês Pedrosa esclareceu que Desnorte é o título um dos 14 contos que está no meio do livro e é também o título do livro porque “pareceu-me que aquilo que tinham em comum todos os contos era essa sensação de desnorteamento. Todas as histórias deste livro retratam pessoas que têm a sensação de estarem à beira do precipício ou numa situação de mudança com a qual ainda não convivem, uma sensação de não saberem que chão pisam”.

Assumindo-se sobretudo como romancista, Inês Pedrosa considera o conto “uma arte muito específica, que aprecio muito enquanto leitora e também gosto muito de escrever contos porque nos permite um trabalho rigoroso de linguagem muito atento”.

A escritora revelou que o livro tem contos que já tinha escrito há muitos anos e outros mais recentes: “todos foram retrabalhados e pude olhar para eles com um olhar o mais cirúrgico possível e trabalhar a escrita”.

Para Inês Pedrosa, “este conjunto de contos fazia sentido junto. A montagem do livro tem a ver com uma estrutura de romance”.

João de Melo revelou que ao contrário de Inês Pedrosa se sentia mais contista do que romancista, acrescentando que “periodicamente, necessito de escrever contos mais do que romances porque considero o conto, dentro do género narrativo, uma escrita literária profundamente higiénica, despida do artifício”.

Para o escritor vencedor do Prémio Literário Vergílio Ferreira 2016, “o conto é o soneto da prosa. É aquilo que eu gosto mais de frequentar”.

O autor explicou que “Os Navios da Noite fala do tempo de agora e do país de agora para as pessoas de agora”, acrescentando que “sinto que só final da 18ª história (última do livro) tinha completado um ciclo que se estava a desenhar dentro de mim”.

João de Melo contou que “a história é narrada pelos vencedores, os vencidos não têm direito a contar a história, a vitória. Os vencidos são os silenciados por obrigação. E se não for a literatura a dar-lhes voz eu não sei quem lhes possa dar voz”.

José-Alberto Marques começou por dizer que “não nego ter pertencido e ser bastante amigo dos surrealistas e do movimento de poesia experimental portuguesa”. Explicou que o livro se apresenta dividido em capítulos e alíneas referindo-se à sua composição.

O candidato a Presidente da República é assassinado após exercer o seu direito de voto. O filho segue uma carreira política, de Presidente de Câmara a Deputado, enquanto tenta desvendar o mistério do pai, mas não consegue os seus intentos. No “corpus” literário as personagens principais são variadas. Desde o Cónego que ama Deus e as mulheres, o Coronel, militar de várias patentes, consoante o momento, casa rica, vários amigos, bom “vivant”, viajado, conhecedor de atores e atrizes estrangeiras, também pai do deputado, dá festas, afinal, com o dinheiro da mulher. Nunca foi militar. Destaca‑se também, Celínea, pretensa namorada de Albano, rica, médica, poetisa, prostituta, amante da obra de Schubert, descobre‑o também como escritor em Paris onde vai viver, exercendo a sua verdadeira profissão, com “Tête de Vache”, que morre em sua defesa. A mulher do candidato enlouquece e brinca na praia como criança.

Afinal, o candidato… Deixo ao leitor o prazer de o encontrar no último capítulo. «Importante»: Este romance de José Alberto Marques é preenchido com textos em itálico, como se o leitor, por vezes, sem desviar os olhos, escutasse uma poética musical que integra o sentido e a escrita, a performance do Romance.

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