Dada a conhecer na 20ª edição do Correntes d’Escritas, a elogio da sombra apresentou-se novamente esta manhã na Póvoa de Varzim. Coordenada por Valter Hugo Mãe, a coletânea estreou-se com quatro títulos: Autópsia [poesia reunida], de José Rui Teixeira; um fugaz regresso à vida editorial da poeta Isabel de Sá com O real arrasa tudo, uma antologia; inéditos de Andreia C. Faria em Alegria para o fim do mundo; e a estreia de Luís Costa com Amar no tempo das grandes maldições.
A estes quatro títulos seguiram-se, então, Uma falha nos dentes, de João Gesta,Poesia, do surrealista Fernando Lemos, No rasto dos duendes eléctricos (1978-2018), de Adolfo Luxúria Canibal, Um dia tudo isto será meu [uma antologia], de João Habitualmente, e  Sob a forma do silêncio, de Emanuel Madalena, completando assim o conjunto de nove obras publicadas durante 2019.

“A poesia é um modo profundo, intenso, talvez mais verdadeiro de comunicar, e que sabemos vai dizer respeito a um núcleo restrito, e por isso um grande sucesso na poesia pode dizer respeito a 200 ou 300 exemplares vendidos”, explicou o coordenador de elogio da sombra.

Valter Hugo Mãe apresentou aos leitores também uma obra sua, Serei sempre o teu abrigo. Desta feita, as atenções do escritor viraram-se para o universo infantojuvenil e acompanhamos a força do amor dos avós um pelo outro e dos dois pelo neto. O poder dos laços da família e do afeto na sensibilidade que só as palavras de Valter Hugo Mãe conseguem atingir. Um conto delicado sobre a fragilidade dos avós vista pelos olhos atentos do neto.

Continuando pelo universo da literatura para a infância. Adélia Carvalho e Raquel Patriarca são, para Valter Hugo Mãe, as melhores escritoras do género. “As crianças não precisam que um adulto lhes explique nada acerca do livro. Elas, sozinhas, podem ler e deixar a sua imaginação à solta”.

Adélia Carvalho é a autora de A menina que queria desenhar o mundo. O livro conta com as ilustrações de Sérgio Condeço que, há cinco anos – com 45 – decidiu deixar o seu trabalho para se dedicar inteiramente “aos bonecos”. Segundo o ilustrador, “às vezes sinto-me como um velho numa discoteca onde só há miúdos de 20 anos”.

Raquel Patriarca, autora de A História de uma História, confessou que o livro foi inspirado num poema magnífico que escreveu há 16 anos, “um poema ruivo, sentado na segunda fila”.

O escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez afirma que o seu primeiro romance, Os Informadores, é um “protesto” contra o branqueamento do episódio da perseguição política a alemães, nos anos de 1930/1940, que a Colômbia quis fazer na sua história oficial.

A história do romance é contada a partir dos anos 1980/1990, quando um jornalista escreve um livro sobre uma judia chegada à Colômbia em fuga da Alemanha nazi, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

“Sempre me interessou a exploração da realidade que seja histórica, que seja parte da memória comum de uma sociedade, nunca posso evitar utilizar a minha própria biografia e as minhas preocupações, mas a ideia de usar o romance como uma ferramenta de exploração da nossa realidade sempre me interessou”, afirmou o escritor.

Aurelino Costa apresentou a segunda edição de Pitões da Júnias, Tões de Aurelino Costa com Anxo Pastor. A primeira edição foi lançada em 2002 e 18 anos volvidos o advogado optou por não alterar nada no seu livro. Pitões das Júnias é uma freguesia do concelho de Montalegre e que remete Aurelino Costa para as suas memórias afetivas, de cheiros, de gostos, de sons.

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