Maria Flor Pedroso conduziu o tema “São de(s)ilusão os tempos”. Esta foi a Mesa de despedida da 21ª edição do Correntes d’Escritas.

Escritora, atriz, poeta, jornalista e produtora cultural. Por estas artes se divide Elisa Lucinda. A sua intervenção, que recebeu uma ovação em pé, abordou temas fraturantes: racismo, corrupção, injustiça, feminismo negro, extrema-direita, machismo.

“Quem mandou matar Marielle?” foi a pergunta com que terminou a sua comunicação.

Juan Gabriel Vásquez viu Enrique de Hériz há um ano pela última vez. Desde aí, “não escrevi uma única linha sem pensar no que ele pensaria”. Enrique de Hériz enfrentava os seus últimos dias com vida e a doença tinha-o transformado. De homem vivaz e eloquente a frágil e silencioso. “Tinha-se tornado opaco. Doeu-me ouvir a sua voz ténue.”

Quando o amigo partiu, Juan Gabriel Vásquez cercou-se dos livros do autor para viver uma conversa tranquila com ele.

Patrícia Portela afirmou que “a mentira é a nossa ilusão. A nossa maior desilusão é a verdade”. A encenadora, videasta e performer recordou Vasco Pulido Valente, historiador, escritor, ensaísta e comentador político, que faleceu ontem com 78 anos.

Para Francisco José Viegas, falar sobre os livros que amamos é o que o traz anualmente ao Correntes d’Escritas. “Podemos não ser as melhores pessoas a pensar, mas somos as melhores a escrever. Estou a defender o humor. Não porque o mundo esteja a correr bem, mas porque precisamos manter o mínimo de sanidade e manter a capacidade de olharmos para lá de amanhã”.

Rosa Montero sublinhou que “estamos a viver tempos de ódio. Olhamos para o futuro com medo: crise climática, extremismo dogmático no mundo, de direitas e esquerdas, laicos e religiosos, descrédito da democracia. A democracia é hipócrita e injusta e a falsa pureza do dogma aproveita-se do medo”. Segundo a escritora, “os tempos são sempre uma desilusão, a vida é sempre uma desilusão. O homem e a mulher mais felizes já sentiram dor suficiente para escrever o Livro do Desassossego”.

Para Manuel Rui, a desilusão é uma perda de imagem, um sonho contrariado. “Quanto mais a imaginação nos faz sair da realidade mais forte será a queda”. Para o escritor angolano, “um fracasso é mais útil na vida do que um êxito fácil”. O autor escreve “da escrita para a fala de forma a que o leitor se consiga enganar que não me está a ler mas que lhe estão a contar uma história”. Manuel Rui disse que “a vida vem antes da literatura como a matéria-prima vem antes da obra”.

Recorde esta edição do Correntes d’Escritas.