Na Sala de Atos, Paulo José Miranda optou por ler uma pequena passagem do seu livro Aaron Klein, que retrata “personagens verdadeiras e fictícias”, numa busca intensa pela “interioridade mais íntima do ser humano, a partir da figura de um judeu regressado a Lisboa, depois de ter deixado a cidade, ainda criança, partindo com os pais rumo à terra prometida de Israel”.

Cálice, de Luís Carmelo, descreve a “morte do pai (de todos os pais), essa ocultação maior que permanece”. O autor, confidenciou que com este romance foi à procura “do que podia ter acontecido, dessa perspetiva poética de buscar uma genealogia oculta e sombria, através da reinterpretação de tabus da minha infância numa história de memórias reconfiguradas”.

Um estreante na “aventura” de escrever um romance, Vasco Gato esclareceu que iniciou várias “tentativas frustradas, que terminavam com uma só página de quatro versos, ou seja, um poema”. O poeta e tradutor lisboeta considera que a parte mais complicada neste novo passo foi “conseguir que as páginas se acumulassem, o que foi acontecendo através de estímulos, coisas da minha vida que foram entrando na obra”. O passo seguinte foi dado pelo seu editor, que pertence a uma classe de “verdadeiros heróis, capazes de publicar num mercado tão precário como o português”.

A finalizar as apresentações, Fernando Sobral introduziu uma obra nascida “da conjugação da minha organização como jornalista e desorganização como escritor”, numa espécie de “caos controlado”. “A alma portuguesa e a sua sobrevivência ao longo dos séculos” funcionam como “pano central d´ A Grande Dama do Chá”.

Na Sala Principal do Cine-Teatro, a plateia pôde contemplar a excelência do trabalho de João Cayatte e sua equipa de câmaras na edição de 2019 do festival literário. Como resultado final de horas de captação de imagens, recolha de depoimentos e pequenas entrevistas, sem encenações, foram apresentados mais de 120 autores, público a perder de vista com pessoas sentadas nas escadas e salas esgotadas para ouvir falar de literatura.

Foi uma oportunidade de olharmos para trás, à procura do que se viveu, das imagens que se imortalizaram, sempre com o olhar posto no presente e futuro do Correntes d’Escritas, o festival literário português de referência.

Recorde o 21º Correntes d’Escritas. Acompanhe o grande evento no portal municipal e no facebook.