O autor
explicou que no livro estão editadas as crónicas sobre as suas memórias de África,
que escreveu para o site Comunidade Luena. Na obra, explica, dá relevo “acima
de tudo, a valores, praticados por gente simples, tão simples que dentro deles
só pode existir felicidade”. Fazendo-se valer da linguagem autóctone, misturada
com a língua portuguesa e termos inventados pelo próprio, o autor conta
histórias de vida. “Na essência estamos a falar de seres que vivem, que sofrem
e nesta história apercebem-se que a felicidade anda no mesmo sítio que o
suicídio. Ambas vivem implacavelmente juntas”.  

Margarida
Fernandes levantou um pouco mais o véu sobre o livro, explicando que os 55
contos que compõem Para Além da Terra
são quase todos contados na primeira pessoa, ainda que não tenham sido, de
facto, vividos pelo autor. “A Terra Mãe é pintada, cantada e chorada nesta
obra”, explicou, encontrando como temas a política, o racismo, a
(des)organização social. “José Cavalheiro Homem cria um narrador que ora
descansa nas descrições ora avança no meio das intrigas”, disse, referindo
ainda a “linguagem popular” do livro ou a “luz quente de África” que irradia.

E se a
Margarida Fernandes coube falar do livro, a Ângelo Vaz, pintor, coube falar do
autor, que conheceu nas aulas de pintura que ministra. Assim, o Mestre conheceu
primeiro a vertente de pintor do autor e só depois a sua faceta de escritor.
“Surpreendeu-me pela positiva”, afiançou. “O José Cavalheiro Homem é natural de
Luena, Angola, e é uma pessoa ligada ao céu, pois é controlador de tráfego
aéreo. Reside na Póvoa de Varzim desde 1993 mas também está ligado ao Alentejo,
local onde aproveita para reflectir e descansar. E escolheu o Alentejo porque
lhe faz lembrar a sua terra natal, Luena”. Antes de ler duas das 55 crónicas do
livro, Ângelo Vaz avisou: “este livro não é para ser lido, é para ser saboreado”.

José Cavalheiro Homem é também autor de M’Africando
e Trilhos,
obras que já apresentou na Póvoa de Varzim.