O Posto de Turismo engalanou-se para a inauguração da exposição “A Lenda dos Namorados da Póvoa de Varzim”, que reuniu, ontem ao final da tarde, algumas figuras emblemáticas da sociedade poveira, que assim deram contexto histórico e social ao Dia de São Valentim no concelho.
O reputado escritor e jornalista poveiro José de Azevedo, a diretora do Museu Municipal, Deolinda Carneiro, e Carlos Tavares, sócio-gerente da Ourivesaria Tavares foram os palestrantes do evento, que contou com o Presidente da Câmara Municipal, Aires Pereira, como convidado de honra. O edil aproveitou a oportunidade para anunciar que a Póvoa de Varzim vai celebrar o Dia dos Namorados com uma iniciativa inédita, “É bom namorar aqui”, que “surgiu a partir de uma ideia do Carlos Tavares” e será realizada em parceria com o comércio local.
“Decidimos criar uma imagem e uma lembrança para oferecer a quem vier à Póvoa de Varzim comemorar o São Valentim. Durante todo o dia de 14 de fevereiro, pessoas devidamente identificadas irão visitar e animar os estabelecimentos comerciais, os hotéis, as lojas, os restaurantes e entregar um coração em terracota e um cartão que conta a Lenda da Fortaleza”, confirmou Aires Pereira, que pretende que este “pequeno mimo” sirva para que os casais de namorados “levem uma lembrança da nossa terra e para que fiquem com vontade de voltar à Póvoa de Varzim.”
O autarca falou ainda num projeto para o futuro, com a criação de um espaço na Fortaleza para que os casais apaixonados possam depositar um aloquete, “que faça com que a tradição perdure e a história do amor continue ligada.”
Aires Pereira defendeu a importância deste tipo de iniciativas, por entender que o município tem a “obrigação de ser indutor da tradição que é necessária criar” e deve continuar a “promover parcerias com o comércio local e a elaborar sinergias que potenciem o esforço das empresas na criação de emprego e riqueza, de modo a que as pessoas fiquem ligadas à nossa terra”.
“Sem comércio e sem vendas, o Dia dos Namorados é um dia igual aos outros. Devemos aproveitar estas oportunidades para mudarmos hábitos e para que a Póvoa de Varzim deixe marca e seja lembrada. O que seria das nossas ruas mais icónicas sem comércio? Estariam sem luz, sem gente e vazias de propósito. Destes desafios faz-se emprego e faz-se cidade”, concluiu o edil, depois de deixar um agradecimento à Ourivesaria Tavares, “um exemplo de persistência e de como manter a sua marca sem nunca perder a tradição.”
José de Azevedo começou por explicar que um dos motivos que o levou a aceitar o convite da organização foi o facto de os “poveiros serem renitentes em conhecer a história local e a Póvoa de Varzim ser uma terra parca em lendas, e as que há são demasiado fantasiosas”. De seguida, o escritor prendeu a plateia com “A Nossa Fortaleza e a Lenda dos Namorados”, retratando a bonita história de amor (filial, pátrio e à nossa terra) que é a história da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, a que os poveiros carinhosamente tratam por “Castelo”.
Criada para defender o Reino, e principalmente a enseada poveira (cobiçada pela abundância de sargaço e qualidade e quantidade de peixe), a sua construção foi iniciada no Século XV e só seria finalizada já no Século XVIII. É na Capela da Fortaleza que se concentram mais histórias. Aí, muitas moças de xaile e avental fizeram as suas primeiras juras de amor; a classe piscatória implorou a proteção divina para as suas embarcações e homens do mar; muitos pais assistiram ao salvamento dos seus filhos; muitos noivos imploraram a Nossa Senhora uma união eterna e feliz e, em segredo, colocaram um aloquete em forma de coração no velho pórtico da capela, implorando uma união feliz para toda a vida, que os “amarrasse” na vida e na morte.
Imbuído no espírito da iniciativa que promete animar o concelho poveiro para o Dia dos Namorados, José de Azevedo terminou a sua participação afirmando que “é bom namorar na Póvoa de Varzim!”
Presente para falar um pouco sobre a temática das tendências, das coleções e do “traje de outros tempos”, a diretora do Museu Municipal, Deolinda Carneiro, esclareceu que “o traje de casamento só surgiu com a Rainha Vitória, no século XIX, sendo o branco um sinal de pureza, de virgindade e uma cor que não se associava a nenhum País específico, numa época em que eram frequentes casamentos entre pessoas de diferentes estados na Corte Europeia.”
No entanto, “o povo e a burguesia mantinham o preto, que era a cor das cerimónias e que servia para todas as ocasiões especiais. As mulheres vestiam saia pelas costas, capa, blusa, saia preta, brincos de ouro e fio com cruz e o homem usava fato preto, barrete vermelho ou preto e cordão e relógio de ouro. No caso dos homens, o fato servia inclusivamente de mortalhas, no dia em que iam a enterrar”, concluiu Deolinda Carneiro.
Carlos Tavares focou a sua atenção nas matérias-primas usadas no casamento e nas características do ouro, do diamante e das alianças e anéis de noivado. Relativamente ao ouro, este destaca-se pela cor e brilho, resistência, ductilidade e densidade, enquanto o diamante é o material “mais duro à face da Terra”, é bastante resistente à corrosão e não parte. Ambos os materiais são extremamente raros e apetecíveis para a celebração de ocasiões especiais.
O sócio-gerente da Ourivesaria Tavares passou então a explicar que a aliança foi introduzida no ano de 860 por decreto papal e “simboliza um acordo entre duas pessoas, funcionando como símbolo de eternidade. A sua forma circular e perfeita sem fim realça o que se pretende numa relação e funciona como um ato público, com o casal a colocar um objeto na mão esquerda para destacar a relação”. Em relação ao anel de noivado, Carlos Tavares explicou que a sua existência remonta ao ano de 1477, quando o Arquiduque Maximiliano da Áustria ofereceu um anel de noivado a Maria de Borgonha, que consistia “num aro com um diamante por cima, que abençoaria a relação por ser um material raro e resistente.”
Organizada pelo município da Póvoa de Varzim, em parceria com a Ourivesaria Tavares, a exposição contém peças de ourivesaria alusivas ao tema, incluindo uma coleção de réplicas dos diamantes mais raros do Mundo, cortesia da Ourivesaria Tavares; área expositiva decorada por parte da RD Atelier, que é igualmente responsável pela conceção das lembranças a entregar na campanha de rua do Dia dos Namorados; fatos de noivo, vestido de noiva e vestido e fato de crianças acompanhantes em exposição, pela Sandra Coutinho Noivos, pelo atelier de noivas Cristina Campos e pela Lamar, respetivamente e uma encenação da cena “namoro ao postigo” e fatos de noivo antigos, cortesia do Museu Municipal. A pastelaria Ribamar contribuiu com o fornecimento do bolo de noiva decorativo, bem como do bolo degustado no final da inauguração do evento.
“A Lenda dos Namorados da Póvoa de Varzim” estará em exposição no Posto de Turismo até ao dia 19 de fevereiro.