Maria do Rosário Pedreira apresentou os dois autores e as suas obras, tendo justificado que Tina Vallès, ao contrário do previsto, não conseguiu estar presente para apresentar o seu livro “A Memória da Árvore”.

Os livros apresentados têm títulos que podem ser considerados enigmáticos e causadores de equívocos: “A Educação dos Gafanhotos” e “Aprender a Falar com as Plantas”.

David Machado contou que já foi convidado para uma sessão em que a organização pensava que “A Educação dos Gafanhotos” era um livro infantil.

Também Marta Orriols já se viu obrigada muitas vezes a esclarecer que “Aprender a Falar com as Plantas” não é um manual de jardinagem.

A escritora catalã explicou que a presença das plantas no romance e no seu título é “simplesmente simbólica”. E está relacionada com a personagem de Mauro, que morre logo no início da história. Ele gostava de jardinagem, tinha um pequeno jardim no terraço, do qual cuidava.

Quando Mauro morre, as plantas começam a morrer pois a mulher, Paula, não tem jeito para as plantas, mas tem que começar a aprender para manter viva a parte boa das memórias do marido, seu companheiro de 15 anos.

É um processo de aprendizagem de como lidar com o abandono, o rancor, a tristeza, porque Paula fica a saber poucas horas antes de Mauro morrer num acidente, que ele tinha outra pessoa e queria sair de casa.

De acordo com a autora, esta personagem começa por se deparar com um verdadeiro “cocktail molotov de sentimentos”, por isso o romance é escrito na primeira pessoa para que o leitor consiga aperceber-se, de uma forma mais próxima, dos sentimentos da personagem.

Vencedor dos prémios Òmnium e L’Illa dels Llibres, o romance revela os pormenores da alma feminina, levando-nos em segundos da dor à ternura, do sorriso à emoção mais dramática.

O português David Machado também já é premiado. Em 2005 com o seu conto infantil “A noite dos animais inventados” recebeu o Prémio Branquinho da Fonseca, da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso.

Explicou que os gafanhotos aparecem no título, porque os dois jovens, que resolvem fazer uma viagem sem planos pela América, queriam muito “viver coisas diferentes e, todos os dias, saltar de poiso em poiso como fazem os gafanhotos”. Depois, quando acontece o ataque às torres gémeas, na altura em que estavam na Florida, a situação acaba por ser uma “educação” para dois jovens convencidos que já eram adultos e sabiam tudo.

As personagens que aparecem no livro “A educação dos gafanhotos”, David e Marco, apesar de terem o nome do escritor e do seu amigo de viagem – a viagem aconteceu na realidade, feita pelo autor e pelo seu amigo de faculdade -, “não somos nós no livro, digamos que, como dizem os americanos, somos nós com esteroides”.

“A Educação dos Gafanhotos” é a história dessa marcante aventura: das dificuldades que os dois jovens amigos têm de ultrapassar, das conversas insólitas que travam com quem vão conhecendo, das longas noites passadas em bares da América profunda. É também o relato do abalo provocado neles pelo ataque terrorista do 11 de setembro.

De facto, lembrou David Machado, os dois só tiveram contacto com “o sentimento de insegurança” quando falaram com a família do aeroporto de Miami (onde ficaram a dormir dois dias no chão, pois os EUA tinham fechado os aeroportos): “A minha mãe atendeu-me o telemóvel em lágrimas. Só quando regressei e vi as imagens do atentado é que me deparei com esse medo que todos sentiam de novos ataques”.

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