Várias histórias foram contadas ao longo de mais de uma hora de conversa, com uma linguagem simples e uma atitude completamente informal, onde ficamos a saber que, para ambos, a idade para começar a escrever é aos seis, “quando aprendemos as primeiras letras”.

Rui Zink confessou à plateia que muitas vezes está a escrever e acha que esse texto vai ser espantoso. Quando o termina e o lê, nem o próprio, nem os amigos gostam. E o contrário também acontece. “Várias vezes um trabalho parece-me horroroso enquanto o estou a escrever e quando o acabo, percebo que é um dos melhores que fiz até hoje”.

Para Rui Zink, escrever não é bater nas teclas de um computador, mas sim, pensar. Ontem, contou o escritor, “um amigo ligou-me a dizer que hoje eu deveria ter uma história para crianças pronta. Imediatamente comecei a pensar no que queria transmitir. Ao longo de todo o dia, enquanto ia conversando com as pessoas, ia pensando, pensando… Até que, na minha cabeça, a história está escrita.”

Ivo Machado, nascido nos Açores, explicou que a televisão só chegou à sua ilha depois do 25 de Abril de 1974. Por isso, ao contrário do que acontece actualmente, ele não conhecia a imagem dos seus heróis, mas apenas o que lia acerca deles. Um dia, contou, “Sophia de Mello Breyner passeava na minha cidade e eu reconhecia-a. Segui-a durante uma hora e meia até que ela me parou e convidou-me para tomar um café. Ficamos a conversar enquanto eu lhe dizia de cor alguns poemas de que ela era autora. Ela ficou muito espantada por um rapaz de 15 anos saber a sua poesia. Há três anos fiz uma viagem pelo Uruguai. Entrei numa livraria, expliquei ao senhor que me estava a atender que era português e que queria comprar poesia uruguaia. Ele começou a dizer-me pequenos trecho da poesia da Sophia que, muitos anos antes, eu também lhe tinha dito. Saí da livraria, peguei no caderno que me acompanha sempre e comecei a escrever. Toda a gente, a certa altura, começou a olhar para mim. Reparei, então, que tinha começado a chorar.”

Rui Zink, à pergunta “porquê ser escritor?” respondeu que quando era jovem queria ser realizador de cinema. Rapidamente percebeu que “era muito caro, pois os filmes custam muito dinheiro”. Por isso, ser escritor não quase nada, visto que é apenas preciso “um papel, uma caneta e eu”.

O encontro dos escritores com o público é, de facto, um momento rico de aprendizagem para os alunos que, mais uma vez, escutaram histórias bonitas que fazem pensar.