Visivelmente emocionada por ter recebido um prémio relacionado com o Correntes d´Escritas que acompanha desde a primeira hora e com o qual estabeleceu uma forte ligação pessoal, Ana Luísa Amaral confessou que a alegria de se saber vencedora lhe tirou o sono: “soube ontem, pouco depois da meia-noite e não consegui dormir. Às sete da manhã já estava a tomar o pequeno-almoço”.

Para a professora universitária e poetisa, “a conquista deste prémio foi inesperada, mas em nada vai alterar a minha vida”. O mesmo não se poderá, certamente, dizer da sua produção literária, uma vez que, como reconheceu, “a distinção do meu trabalho dá-me uma enorme satisfação e constitui um novo ânimo para futuras obras”.

ana luisa amaral

Ana Luísa Amaral

Quando soube que tinha conquistado este prémio literário, no valor de 20 mil euros, Ana Luísa Amaral quis partilhar a notícia com alguns amigos, “os noctívagos”, como ela própria revelou, “porque já era tarde quando soube, mas também não liguei a muitas pessoas”. A filha, que partilhou consigo a alegria do momento e a amiga e orientadora do doutoramento, Maria Irene Ramalho, esta última, como referiu Ana Luísa, “minha grande amiga e que me incentivou a editar o meu primeiro livro”, foram as primeiras pessoas a saber da conquista deste prémio.

O anúncio do prémio literário era, com certeza, o momento mais aguardado da cerimónia oficial de abertura da oitava edição do Correntes d´Escritas, que decorreu esta manhã, no casino da Póvoa.

Na cerimónia foram ainda assinados os protocolos para a atribuição dos prémios literários Casino da Póvoa e Papelaria Locus 2008 e divulgado o vencedor deste ano deste último, que é prémio juvenil, atribuído a jovens entre os 15 e os 18 anos.

mikhael lima

Mikhael Lima

Mikhael Lima, pseudónimo de Nuno Galego Marques Atalaia Rodrigues, conquistou, assim, os 750 euros do prémio com um poema sem título e que começa da seguinte forma:

“Este sabor/Sim…/

Conheço-o/

É o dos corpos deixados/

Na virgem solidão/

De querer… (…)”

Residente na Portela de Sacavém, Nuno tem 18 anos e confessa que, para ele “escrever é uma necessidade tão grande, que tenho de escrever todos os dias”. No entanto, admite que só há pouco mais de um ano começou, de facto, a “levar a sério as palavras”, o que lhe deu coragem para se candidatar ao prémio Correntes d´Escritas/ Papelaria Locus, de que tomou conhecimento através de uma amiga.

Sem perder tempo, Nuno saiu de Lisboa às 6h30 da manhã para poder vir à sessão de abertura do encontro da Póvoa e mostrou-se bastante satisfeito por poder participar num evento desta dimensão. Quanto à escrita, é para continuar porque, como ele próprio afirmou, “tenho necessidade de me fazer ouvir e escrevo para me fazer ouvir. Este prémio constitui um grande incentivo e só espero que me possa abrir portas para possíveis publicações”.

sessao abertura

Na cerimónia de abertura do encontro, o vereador do Pelouro da Cultura, Luís Diamantino, lembrou que, ao longo destes oito anos de existência, já passaram pela Póvoa mais de 250 escritores e que o Correntes d´Escritas continua a ser um evento único e de referência no país. Entre as várias novidades deste ano, Luís Diamantino destacou a revista do encontro, este ano com um dossiê dedicado a Lídia Jorge, também ela vencedora de uma das edições do prémio literário do Correntes d´Escritas, e com o excelente grafismo de Henrique Cayatte.

No seu discurso de abertura, o Presidente da Câmara lembrou o papel da literatura e da palavra num mundo cada dia mais violento, em que tanto se acentuam diferenças culturais e religiosas como motivo de guerras e de actos de terrorismo. Para José Macedo Vieira, que lembrou ainda o silêncio que alguns regimes tentam impor aos seus escritores, a literatura deverá ser a arma para reafirmar a riqueza da diversidade e da pluralidade de ideias. O Correntes d´Escritas é, certamente, um palco de diversidades, onde se congregam culturas, ideologias, crenças e estilos e onde a diferença é acolhida enquanto força criadora.

O Correntes d´Escritas vai decorrer até dia 10, na Póvoa de Varzim. Esta tarde, a escritora brasileira Nélida Piñon abre o encontro com uma conferência, às 15h00, no Auditório Municipal, sobre “A Memória Secreta da Mulher”.