À semelhança da primeira noite, o hotel Axis Vermar recebeu uma maratona de lançamentos de livros. Perante uma plateia já cansada ao fim de dois longos dias mas ainda bem atenta, com uns sentados em cadeiras, outros, mais descontraídos, em puffs, os livros começaram a desfilar.

Quem deu início à sessão foi Rui Vieira, que esteve a apresentar o seu 3º romance, Vozes no Escuro. Segundo o representante das Edições Nelson de Matos, “não se trata de um best-seller”.  É a “história de uma rapariga que vê negada a possibilidade da sua paixão” e é obrigada a uma “vida de clausura”. No livro há referências a cartas de Mariana Alcoforado e a textos bíblicos. As personagens não têm nome e “a personagem principal são as mulheres”. O livro é uma homenagem a José Cardoso Pires, seu escritor de referência. “O romance já não é meu, já está impresso e é de quem o quiser ler”.

Seguiu-se Pedro Eiras, com o livro Pequeno Divertimento sobre Literatura em Cem Lições também conhecido por Substâncias Perigosas. O livro em questão começou pela publicação de 18 crónicas num site que foram posteriormente repensadas e aumentadas até formarem as cem lições. O autor deixa a definição do livro para o leitor decidir. “Este livro é (…) o que vocês quiserem”. Fala em nomes como Mário de Sá-Carneiro, José Saramago, Salazar e de mais umas dezenas de personalidades. Denuncia ainda o perigo dos livros e da leitura. “Ler livros é perigoso”.

Da mesma editora de Substâncias Perigosas, a Livro do Dia, uma outra obra: Antologia Desacordo Ortográfico, uma parceria de escritores da lusofonia que se juntaram para exaltar as diferentes características que a mesma língua possui, dependendo do país onde é falada. Um livro que refere pouco, aliás, o acordo ortográfico. “Com acordo ou sem acordo, o negócio é fazer o que a gente quiser, boa literatura”.

Segue-se a vez da Quetzal apresentar 3 livros. Antes disso, o representante da editora fez questão de selar o compromisso que mantém com os autores latino-americanos: “Continuaremos a publicar autores da América Latina”, já que a Quetzal sente uma grande proximidade entre estes e os portugueses.

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O primeiro livro desta editora é do argentino Pablo Ramos, a Origem da Tristeza. É, segundo o autor, “uma história fácil de seguir”. O livro está dividido em 3 partes, que acompanham os primeiros anos de adolescência de Gabriel. Numa Argentina afectada pela ditadura militar, o jovem vai passar por uma série de “circunstâncias que vão acabar com a [sua] adolescência” e fazer com que perca a inocência, ao “passar uma fronteira sem retorno”. O livro termina com uma lição: “A morte não é o contrário da vida. Viver como um morto, isso, é o contrário da vida”.

Milton Fornara marcou também presença com o livro Cadáver Precisa-se, uma obra com uma “escrita entre o sarcástico e o policial”. Trata-se da história de Ramon Mendonza, um “desertor do género humano porque tudo na sua vida falhava”. No final, e depois de ter aprendido a gostar de Vivaldi, deita-se com a sensação de que todo o seu pensamento estava errado mas o importante é que no dia seguinte está vivo outra vez.

Para o fim ficou Héctor Abad Faciolince, que terminou os lançamentos de livros de uma forma descontraída e bem disposta, animando a audiência. O título original do livro, Tratado de Culinaria para Mujeres Tristes, não foi aceite em Portugal e foi trocado por Receitas de Amor para Mulheres Tristes. Na Alemanha e em Itália foram fieís ao nome da obra embora neste último país tenha sido complicado convencer a editora, devido ao trocadilho que seria possível fazer com a palavra “culinaria”, transformando-a em “culo in area”.  “Não sei de que género é o livro. É um livro sem género”, afirmou perante a atribuição por parte da editora do estatuto de romance à obra de Faciolince. Em relação ao livro, apenas um aviso: “As receitas são muito difíceis de se fazer”.

 

Texto e fotografias: Ágata Ricca