Alunos de quatro turmas do 12º ano conversaram com os três autores sobre palavras clandestinas (tema proposto) e muito mais.

Ignácio lembrou o tempo da ditadura militar, quando as palavras que escrevia eram subterfúgios para outros significados. “Escrevíamos artigos jornalísticos como se fossem fábulas, cheios de metáforas. Jornalistas e também escritores tinham de procurar palavras que dissessem a mesma coisa sem que os censores descobrissem. Não podíamos escrever gorila, porque era a expressão utilizada nas ruas para militares, repressão, democracia, tortura e nem falar sobre Che Guevara”. O escritor brasileiro contou que, numa edição de um jornal de São Paulo, decidiram imprimir os artigos com os espaços deixados em branco pelas palavras cortadas pela censura. Fomos proibidos de o fazer novamente. Depois, começámos a preencher esses espaços em branco com sonetos de Luís de Camões. Por exemplo, o texto poderia ser o seguinte: o deputado afirmou que As armas e os barões assinalados”. Mais tarde, nos espaços deixados em branco começámos a escrever receitas. O povo disse três chávenas de farinha e duas de açúcar. Usar a clandestinidade da palavra é um desafio. Vivemos assim durante 21 anos”.

Ignácio ainda fala sobre a proibição do seu livro Zero com amargura. O escritor explicou aos jovens que, por não existirem carros disponíveis para retirar de todas as livrarias o livro, a censura decidiu que a primeira edição iria terminar e, aí sim, não se iriam reproduzir mais cópias. Esse período de tempo que Zero esteve à venda, Ignácio foi deixando exemplares em escolas por todo o Brasil e, mesmo quando já não havia livros para vender, a população fazia cópias que circulavam de mão em mão.

Fernando Aguiar deu a conhecer aos alunos da Eça de Queirós algo novo: a poesia experimental. O autor leu alguns dos seus poemas para que os alunos tivessem o primeiro contacto com esta forma de literatura. Fernando Aguiar explicou que a poesia experimental comunica mais pela forma do que pelo conteúdo, ao contrário da “poesia normal”, e trabalha com a estrutura do poema, a sonoridade das palavras. Os alunos ficaram a saber que um poema pode ser criado através de fotografias, de instalações de artes plásticas e que joga com absurdos, com ironias.

Onésimo Teotónio de Almeida começou por dizer que participa nas Correntes d’Escritas mesmo antes do seu público da manhã ter nascido. Entre histórias que sempre prendem a atenção da sua audiência, o escritor açoriano deixou um conselho aos jovens estudantes. “Aproveitem o vosso tempo para experienciar. Tudo o que entra no cérebro durante a juventude não sai mais. Podemos, depois, não saber ir buscar as memórias às gavetas mas que elas lá estão, disso não tenho dúvidas. Se eu pudesse voltar atrás tinha acumulado mais experiências, conversado mais com gente interessante, aprendido mais”.