Numa noite de sexta-feira, sexta-feira santa, do ano de 1999, decorre a acção de “Água na Boca”, do escritor espanhol, a residir em Paris, José Manuel Fajardo. Numa noite e na cozinha de um restaurante, onde um marinheiro, transformado em cozinheiro, se rebela contra a tristeza e a desilusão. Uma noite em que se combinam tempos, viagens e afectos, como na confecção de um prato. Perfeccionista e atento ao pormenor, o autor não quis deixar nada ao acaso e, para ser capaz de transmitir o ambiente e o ritmo de uma cozinha, foi mesmo ao ponto de passar uma noite no interior de uma, num restaurante. Este é um livro, como referiu a escritora Karla Suarez, que o apresentou, cheio de “sabores, aromas e paladares” e cuja leitura dá, literalmente, água na boca.

Quando o Comandante Rodrigo abandonou a mulher e os filhos para ir viver na sua herdade do Alentejo, ninguém quis acreditar. E quando se soube que tinha uma amante e, mais tarde, uma filha, Rosa, todos pasmaram. Após a morte do velho homem, quem iria substituir o elo que existia até então entre as duas famílias? E como é que todos iriam conseguir viver sob o mesmo tecto que Rosa e sua mãe, a bela Felismina? “Da cor dos Seus Olhos”, de Sofia Marrecas Ferreira é, acima de tudo, um romance sobre a sensibilidade humana quando confrontada com o peso da memória e da mudança. O livro foi ontem apresentado por Hélder Macedo, que, na sua análise, “desmontou” algumas das imagens e até dos objectos nele referidos, propondo interpretações para além do texto.

Elsa Osório é argentina e, como boa argentina que é, escreveu sobre a sua paixão e o seu ódio: Buenos Aires. Em “Tango”, Elsa Osório parte desta dança, que é indissociável do país e da sua gente, e usa-a como pretexto para juntar os personagens mais diversos. Como explicou, “o abraço do tango, que é uma dança que se dança para dentro, é o abraçar de todas as diferenças na sociedade argentina”.

Estreante no Correntes d´Escritas, Elsa Osório trouxe à Póvoa um livro onde estão presentes as suas raízes e a sua Buenos Aires: “a personagem principal ” – afirmou a autora – “tem com esta cidade uma relação amor/ódio, como eu, mas eu estou a reconciliar-me, por isso retrato uma Buenos Aires no seu período áureo”.

Manuel Jorge Marmelo volta, neste seu “Onde o Vento me Levar” ao território das viagens, só que, desta vez, o livro fala, de facto, de uma viagem que não chega a acontecer. O destino? África. O personagem? Não se sabe. A letra M é tudo quanto o identifica. “M. é alguém que viaja com a alma a tiracolo e que deixa que o continente africano se vá inscrevendo nessa alma”, referiu Ana Paula Tavares, na apresentação do livro de Jorge Marmelo com que já escreveu, também, um romance em parceria.

Referindo-se a “Onde o Vento me Levar”, o autor explicou que “este livro tem a ver com problemas de introspecção e através dele tento descobrir o meu próprio caminho.” A viagem de M é, pois, metáfora para uma viagem interior mas que tem como cenário um território fascinante que inspirou a Jorge Marmelo, como ele próprio referiu, “uma homenagem ao continente africano, com todas as suas dores”.

“Quase todas as Mulheres” foi apresentado por Fernando Pinto do Amaral, uma vez que o seu autor, J.J. Armas Marcelo, não pôde estar presente, por questões de saúde. Apesar de ausente, J.J. Armas Marcelo fez questão de endereçar algumas palavras de agradecimento pela apresentação do seu livro, que ganhou o II Prémio de Romance Ciudad de Torrevieja.

Quanto a “Quase todas as Mulheres”, como explicou Fernando Pinto do Amaral, “é uma busca permanente da juventude, por parte do personagem principal, através da sua relação com as mulheres”.

É um mundo em decadência encarnado neste homem, Nestor Rejón, que  descobre desde criança a beleza e os tesouros que se escondem no corpo e na alma das mulheres. Com os anos, graças às suas esculturas em ouro, converte-se num ourives de renome internacional e, da sua tranquila idade madura, relembra o que foi a sua vida: a de alguém que procura ouro, um metal precioso e misterioso como as mulheres que amou.