A principiar o debate, Mafalda Veiga aproveitou o tema para recordar a nostalgia da guitarra portuguesa, que coloriu as memórias da sua infância, “os seus verdes anos”. A cantora entende que a música é a “mais viva de todas as artes” e funciona como “a banda sonora privada de todos nós, por promover a intimidade, os diálogos e os silêncios da vida”.

Adolfo Luxúria Canibal recordou os tempos em que “devorava livros” na sua infância e as “discussões intermináveis à volta das grandes obras de Literatura” na adolescência passada em Braga, em tempos de Revolução dos Cravos. O fundador do grupo de rock Mão Morta destacou o papel determinante da palavra e o poder que o autor tem na vida dos seus leitores.

Seguiu-se a intervenção de Fernando Ribeiro, que destacou a “costela literária muito forte e presente no heavy metal”. O criador e vocalista dos Moonspell entende que a complexidade literária deste género musical “por vezes passa ao lado do grande público” devido à sua exuberância e pontuou esta ideia com um exemplo prático: uma das músicas mais famosas da banda, Ópio, tem uma passagem de um poema de Álvaro de Campos.

Mû Mbana concluiu as intervenções da Mesa 2 ao recordar o primeiro “impacto forte que teve com a música”, através do “cantar do choro dos seus familiares” no primeiro funeral que assistiu nos seus verdes anos. Essa experiência marcou profundamente o artista guineense, que considera que a música está sempre presente em todos os momentos da vida e, naturalmente, também na morte.

Paralelamente, a Sala de Atos do Cine-Teatro acolheu a apresentação de The MAD Nomade untamed textos, de Catarina dos Santos. A relação entre palavras (em registo “spoken word” ou cantadas, de formas mais ou menos convencionais) e música está no coração deste projeto de envolvência da música e das palavras, através da recolha de samples de discos em vinil de Carlos Paredes, Zeca Afonso e Miles David, depoimentos de quem viveu os confrontos de 1967 em Newark (subúrbios de Nova Iorque, onde reside uma significativa comunidade portuguesa) e sons do seu filho gravados durantes as visitas a Portugal, utilizados como banda sonora para cada texto.

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