José Carlos de Vasconcelos foi o responsável pela apresentação da conferência, aproveitando o momento para assinalar o prestigioso percurso literário de Piñon que, recorde-se, é a primeira mulher, em toda a história da Academia Brasileira de Letras, a presidir àquela instituição, no ano do seu I Centenário.

Segundo afirmações do próprio, é a paixão pela língua e pela escrita que caracterizam a também cronista Nélida Piñon, além de um constante “escreve, reescreve, destrói, volta a escrever” que parecem acompanhar a gestação dos seus textos.

Sob o tema “A Memória Secreta da Mulher” Nélida Piñon deu, então, início à conferência. Perante uma multidão expectante, a também cronista discorreu sobre a história feminina.

“É com corpo e memória de mulher que analiso a minha espécie” foi uma das frases iniciais para a descoberta desta história, ou melhor, de como ela foi fabricada. “Por onde andou esta memória?” – a interrogação foi alicerce para uma intervenção que seguiu a memória feminina ao longo da História. Uma memória que se foi construindo, sem esquecer o elemento masculino, e que ora percorreu todos os hemisférios, ora se confinou “ao quarto, à cozinha, aos aposentos”.

Mas seguir a memória da mulher pode revelar-se uma tarefa difícil, já que a envolvem “períodos nebulosos” como Nélida descreveu, propícios ao aparecimento de lendas, mergulhando, então, a memória feminina no mistério.

“Sou uma narradora que se proclama filha de linguagem” disse Nélida durante a conferência. Uma afirmação que encaixa na perfeição nesta grande figura da literatura de expressão lusófona.

O Correntes d’Escritas prolonga-se até dia 10 de Fevereiro, sempre com um vasto programa que pretende, então, celebrar a literatura de expressão ibérica. Lançamentos de livros, mesas de debate e sessões de poesia são algumas das actividades previstas.