Mas, porque a palavra “risco” traz em si outro sentido, Vergílio Alberto Vieira optou por encará-la na sua dimensão de perigo e desafio e, após ter aberto e feito tocar uma melodiosa e inocente caixa de música, que fez silenciar a repleta plateia do Auditório Municipal, admitiu que “escrever é pormo-nos permanentemente em risco e, tanto na vida como na arte da palavra, após 40 anos como escritor, o risco é o mesmo”.

Com esta intervenção, Vergílio Alberto Vieira encerrou as contribuições dos participantes nesta mesa moderada por Perfecto Cuadrado. Antes de abrir o debate, o moderador lembrou Mário Cesariny, que deixou de escrever aos 60 anos para se dedicar à pintura, e a razão que o próprio Cesariny lhe deu a ele, Perfecto Cuadrado, para que tal tivesse acontecido: “ é que a palavra prende muito, torna-nos dependentes dela, enquanto que a pintura flui com mais liberdade”.

Com esta frase recordada do poeta e pintor, o moderador alargou o debate à mesa e a escritora Ana Paula Tavares recorreu a um texto de “Photomaton e Vox”, de Herberto Hélder, e à projecção de desenhos em areia, da tribo Tchokwé, para ilustrar a riqueza de sentidos neles contidos, verdadeiros meios de comunicação, em perfeita ligação com a palavra – risco e palavra, onde começa um e outro?

Zulmiro de Carvalho, escultor e artista plástico, levou o risco para o seu campo artístico, lembrando o desafio do primeiro risco, enquanto ponto de partida para a criação de uma obra.

O designer Henrique Cayatte referiu o surgimento das novas tecnologias: “por causa delas perdemos, cada vez mais, o contacto com o desenho do risco: tanto os artistas gráficos como os escritores, que deixaram de desenhar as letras.”

O escultor José Rodrigues optou por uma intervenção bastante sintética, afirmando que, para ele, palavras e riscos são formas de comunicar, ainda que, no seu caso, o risco constitua, sem dúvida, uma forma primordial de linguagem.

A tarde de hoje do Correntes d´Escritas continua com o lançamento,  às 17h00, de mais quatro livros e com a realização, às 17h30, de mais uma mesa de debate com o tema “Apenas à Literatura é dada Esperança”.