João Rodrigues, da Sextante, afirmou que a obra de Luís Cardoso é “talvez, a que mais vai ao encontro da frase inspiradora da editora: da minha língua vê-se o mar, de Vergílio Ferreira”.  

“Todo o manancial da luta do povo de Timor é uma inspiração. Não como forma de perpetuar essa luta, mas para afirmar a identidade timorense. Naturalmente, são várias histórias dentro da história do país. Eu sou um bom ouvinte e os meus livros são a voz das vozes que ouço”, disse Luís Cardoso.

Sobre O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação é um romance luminoso, em que a história contemporânea de Timor-Leste se transforma e resplandece no transbordante prazer de contar histórias. Histórias todas elas pontuadas por movimentos de navios: o Arbiru, que desapareceu um belo dia, o Lusitânia Expresso, que nunca pode trazer o auxílio português, e a nau Vitória, que aportou em Timor e na qual viajava António Pigafetta, o cronista da primeira viagem de circum-navegação. E todas elas são contadas e reinventadas pela voz da narradora, a sandália esquerda da Carolina, filha de um empresário e integracionista confesso. O romance inclui generosamente todos os que participaram na construção do país: os que ficaram e os que partiram, os que lutaram e os que colaboraram; as mulheres que perderam os maridos e tiveram de pedir «proteção» aos agentes dos invasores, em suma, todos os timorenses, sem censurar uns e outros, e com um enorme sentido de humor e uma profunda humanidade em que todos têm direito ao seu lugar.

Luís Cardoso nasceu em Kailako, uma vila no interior de Timor que aparece por diversas vezes referenciada nos seus romances. É filho de um enfermeiro que prestou serviço em várias localidades de Timor, razão pela qual conhece e fala diversos idiomas timorenses. Estudou nos colégios missionários de Soibada e de Fuiloro e, posteriormente, no seminário dos jesuítas em Dare e no Liceu Dr. Francisco Machado em Díli. Licenciou-se em Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Desempenhou as funções de Representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere em Portugal. É autor de outros quatro romances: Crónica de Uma Travessia (1997), Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo (2002), A Última Morte do Coronel Santiago (2003), Requiem para o Navegador Solitário (2007). Os seus romances estão traduzidos para diversas línguas nomeadamente inglês, francês, italiano, holandês, alemão e sueco.

Depois deste lançamento, o Colectivo Silêncio na Gaveta apresentou o espetáculo poético-musical “Palavras em Desassossego”, com João Rios, Tiago Pereira, Paulo Lemos e José Peixoto. Sabendo que a escrita revela-se ao leitor com o desassossego das palavras, o Colectivo Silêncio da Gaveta vê na literatura um vasto património que de todas as correntes se alimenta. Partindo deste principio e tendo em conta a presença nestes encontros de alguns dos mais interessantes autores de expressão ibérica, o Colectivo Silêncio da Gaveta propõe-se realizar uma viagem de apropriação de algumas das vozes mais significativas desse património linguístico e humano. Numa viagem poética pelos lugares da língua, o Colectivo Silêncio da Gaveta oferece a voz às “Palavras em Desassossego” numa mestiçagem de ritmos e harmonias, que são quantas vezes o estímulo das Correntes D’Escritas.

O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação foi o primeiro lançamento no âmbito do Encontro de Escritores. Esta noite, às 22h00, também no Hotel Axis Vermar, serão lançados os livros Domingo no Corpo, de Aurelino Costa, Enciclopédia da Estória Universal – Arquivos de Dresner, de Afonso Cruz, Marginal, de Cristina Carvalho, O ano sabático, de João Tordo, O dia de amanhã, de Ignacio Martínez de Pisón, e Travessia por imagem, de Manuel Rui.

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