Rui Zink, Rita Ray e Michael Kegler, com moderação de Vítor Quelhas, falaram, esta tarde, na Fundação Dr. Luís Rainha, sobre tradução.
Os quatro tradutores cultivam a mesma opinião: é necessário dominar-se a língua de chegada e ter amor à cultura da língua de partida para realizar um bom trabalho.
Para Vítor Quelhas, uma tradução pode arruinar ou salvar um livro e sensibilidade é algo que não pode faltar ao tradutor.
Rui Zink mencionou a banda Pet Shop Boys e a tradução à letra do nome, os rapazes da loja de animais de estimação. Este exemplo levanta a questão: dou prioridade à forma ou ao conteúdo? Zink afirmou ter pedido aos seus alunos que traduzissem a frase are you mad?. “Sei que fui mauzinho porque não lhes dei nenhum contexto. E, a língua inglesa tem esta falha que, ao mesmo tempo, é também sinónimo de praticidade. Muitos traduziram por estás louca?, outros por estão loucos?, outros ainda por estás zangado?. Mais do que traduzir à letra, Rui Zink procura o tom do livro e é esse tom que tenta respeitar.
Acerca da falta de reconhecimento de que os tradutores padecem, Rui Zink questiona: “como manter o lado bom do amadorismo quando somos profissionais e como ter as regalias do profissionalismo quando somos amadores?”. No entanto, há algo que o incomoda, “a falta de honestidade de algumas editoras que colocam traduzido do japonês. Não é verdade. É traduzido do japonês para inglês e do inglês para português”.
Rita Ray explicou que começou a traduzir para divulgar a cultura portuguesa em Calcutá. O sonho da tradutora, confessou, é ser professora de literatura portuguesa. Na Índia, de onde é natural, não se consegue viver da tradução. Por isso, ensina português mas não literatura.
Rita Ray foi a responsável pela tradução de Apocalipse Nau, do seu colega de mesa, Rui Zink. A convidada explicou que, no livro, Zink fala sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, símbolos da religiosidade desconhecidas na cultura Bengali, para a qual traduz. Rita afirmou que gosta de notas de rodapé (momento em que se vê Rui Zink a torcer o nariz) e que a sua utilidade nas traduções é inequívoca.
Michael Kegler afirmou que ser tradutor é lidar com a imperfeição do seu trabalho. “Nunca chagaremos à perfeição mas não podemos deixar de tentar chegar lá”. O alemão confessou-se feliz por o Google translate ser tão falível pois só assim os tradutores têm trabalho.
Apesar de concordar com Rui Zink, que afirma que um tradutor apenas deve traduzir quem e o que gosta e não ir atrás do que é vendável, Kegler, por outro lado, afirmou que pode chegar o dia em que terá de o fazer. “Vivo da tradução e já sou velho demais para aprender a fazer outra coisa. Ainda não aconteceu mas pode ser que aconteça”.
E uma boa tradução não basta soar bem aos ouvidos mas tem que soar bem aos ouvidos.
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