Ao final da tarde de ontem, o Vice-Presidente e Vereador da Cultura da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino, reuniu-se para uma conversa, na sala de atos, com os representantes de duas Cidades Criativas desde 2015 – Óbidos e Barcelona – que partilharam com o público a sua experiência, percurso e desafios.

Apesar de reconhecer a importância da marca Cidade Criativa UNESCO, Luís Diamantino transmitiu que “é também muito importante o trabalho que aqui é realizado. Temos cá escritores catalães a promover a literatura catalã. O ano passado, tivemos literatura galega e, para o ano, esperamos ter as duas, ou seja, cada vez mais línguas que fazem esta unidade da Península Ibérica. E temos Óbidos também. É muito importante esta rede de cidades que vão trabalhando na área da literatura porque assim somos mais fortes e conseguimos trabalhar a promoção do livro e da leitura com mais força. Deste modo, começamos a descobrir outras literaturas e outros mundos aos quais de outro modo não teríamos acesso. Saímos daqui muito mais enriquecidos”.

Paula Ganhão, de Óbidos (um centro histórico com cerca de 80 pessoas que vivem dentro da vila e 10 mil pessoas em todo o concelho), começou por explicar como decidiram candidatar-se a Cidades Criativas e os desafios a que se propunham. Desde logo, a necessidade de renovar território e recuperar património edificado, no caso, uma igreja, em que acabaram por colocar uma livraria. Esta foi “uma primeira experiência de utilizar o livro físico como ferramenta de desenvolvimento local, que acabou por ter efeitos muito positivos e os visitantes gostaram muito desta livraria”.

A esta, seguiram-se outras em locais que já não tinham utilização: “em todos os recantos, arranjamos maneira de colocar e vender livros”. Outro grande desafio foi tentar motivar a comunidade e comércio/ empresas locais a abraçar esta estratégia.

E a propósito do envolvimento da comunidade, Paula Ganhão reconheceu que “há muito trabalho a fazer para criar leitores de modo a atingir todas as idades”, acrescentando que pretendem “captar e registar a memória e as histórias da nossa população, envolvendo quem faz parte da história local e da nossa identidade”.

A este propósito, Luís Diamantino referiu que a Câmara Municipal tem um plano editorial muito alargado e há muitos anos editamos livros de poetas populares e histórias de pessoas mais antigas. Mencionou ainda as Correntes Itinerantes que levam escritores às freguesias do nosso concelho, como é o caso de Rates e Navais, a que se juntará Balasar, no próximo ano.

Paula Ganhão transmitiu que o facto de serem Cidade Criativa UNESCO faz com que tenham que trabalhar cada vez mais e apresentem resultados e parcerias, mas também dá a Óbidos um reconhecimento nacional e internacional.

Òscar Carreno, de Barcelona, agradeceu ao Instituto Ramon Llull pela parceria de juntos projetarem a literatura de Barcelona, reconhecendo que não haverá muitas cidades no mundo como capital editorial em duas línguas, o castelhano e o catalão.

O maior desafio é aproveitar o impulso dos escritores que levam Barcelona ao mundo através das suas obras, ou seja, beneficiar do impacto global dos criadores literários que fazem de Barcelona um espaço universal.

Òscar Carreno destacou o papel do leitor: “não é possível construir uma Cidade Literária sem antes sermos capazes de construir uma cidade de leitores. Não há literatura sem leitores”. A este propósito, revelou que Barcelona tem um programa de fomento à leitura dirigido a jovens em que tentam convencê-los de que a leitura é uma aventura. Em parceria com instituições e com o mote “Leituras no estádio” conseguiram a participação de equipas de futebol que vão aos estádios falar sobre livros, convertendo a leitura numa aventura apaixonante.

A este propósito, Luís Diamantino referiu que o Correntes d’Escritas também tem, desde a primeira hora, a preocupação de levar escritores às escolas para estarem em contacto com os alunos e criar leitores: “temos que começar por semear. Não conheço nenhum escritor que o seja antes de ser leitor”.

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