Álvaro Laborinho Lúcio leu uma carta escrita a Ana Luísa Amaral, autora de todas as frases escolhidas para dar mote às Mesas. “Onde estás tu, Ana Luísa? Diz-se por aí que morreste. Sem te despedires, foste embora. O que fazes desse lado, tão nova, quando aí és criança e aqui, estrela”. “Antes disto, estarias em uma das Mesas. O que não sabes é que, este ano, estás em todas as Mesas”. Ana Luísa Amaral, considerada uma das poetisas mais notáveis da atualidade e participante recorrente no Correntes d’Escritas, faleceu no dia 5 de agosto de 2022.

Antônio Torres, romancista brasileiro, sublinhou ser “um milagre do mundo a acontecer estarmos aqui na desordem que vivemos. Alegre, trevoso, cruel mundo, a fazer a paz acontecer apenas no intervalo de duas guerras. Fanatismos, preconceitos, pandemias e pandemónios”. Em sintonia no pesar com a crueldade, Elisa Victória afirmou que “o seu coração entristece-se muito, com os animais maltratados” e com as pessoas que sofrem. “Ao ler Ana Luísa Amaral recordei a minha origem humilde. Vender livros em um país que não é o meu é, para mim, um milagre. E logo em um idioma que tanto amo”.

Hélia Correia escreveu uma carta “à minha amiga”: “O milagre do mundo é estares aqui. O meu amor por ti entra em apneia e recusa a afundar-se. O milagre do mundo é o som dos livros a abrir. Eu que não gosto de ouvir ler, deslumbrava-se com a tua voz. Repete-se a pergunta infantil que quer consolo: a poesia salva?” Hélia Correia despediu-se da plateia com a frase “o milagre do mundo a acontecer, Ana Luísa, és tu”.

Para Paulina Chiziane a ressurreição foi criada através da palavra e a “Ana Luísa está viva graças às suas palavras”. Na mitologia africana, o mundo também foi criando através da palavra. A palavra é a gestação do mundo e a ressurreição. Cada coração é um mundo, mas, ao mesmo tempo, existem dois mundos em cada mundo, um interior e um exterior. E, neste poema de Ana Luísa Amaral podemos questionar “quantos mundos o mundo tem?”.

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