Coube a Afonso Reis Cabral “quebrar o gelo” na manhã de sábado na sala principal do Cine-Teatro Garrett. O poeta refletiu sobre o fenómeno do ChatBot – programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas. – que “escreve como alguém que não é alguém, desprovido da verdadeira dimensão humana e literária”. Para Afonso Reis Cabral “é a Literatura que funciona como aproximação ao outro, por muito outro que este seja, porque a arte está aí para abraçar as incompreensões”.

Para Marcial Gala é fundamental abordar “o horror da presença humana”, explicando que em Cuba “escapar do real é algo essencial numa realidade em que pensar livremente é perigoso e onde há muitos artistas, escritores, pensadores presos”. Patrícia Portela confessou ter ficado “atrapalhada pela frase”, tendo parado “logo no se”, pois se “a realidade está arrumadíssima” será apenas “à primeira vista, de longe e sem óculos”. De perto, “é um real que me parece desigual”, com “mais para uns, menos para outros.”

Bernardo Pinto de Almeida citou a obra icónica Bartleby, o Escrivão de Herman Melville, para abordar o “lugar do escritor, do artista no ato da criação”. Para o poeta e ensaísta “é precisamente na dissolução da identidade que é possível escrever. Não se é autor de nada, é-se autorizado pelo texto, escrito pelo texto, atravessado pela criação, por um esvaziamento de si e, no final, com a obra escrita, o autor está desresponsabilizado do que fez”.

A concluir a discussão da Mesa 9, Gonçalo M. Tavares falou sobre uma crescente “cegueira em relação à diferença”. Para o escritor e professor universitário, a “Educação está a construir baldes vazios, com dois olhos e pouco pensamento”, que vão recebendo água passivamente e esvaziam de novo. “Hoje temos gerações muito qualificadas em termos de doutoramentos, mas pouco qualificadas em termos de pensamento” e é aí que importa relevar o papel da “arte, que faz tremer esta realidade burocrática e de ausência de pensamento”, concluiu.

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