O escritor começou por falar um pouco do seu percurso de vida, por o considerar praticamente indissociável da sua trajetória profissional.

“Desde criança, sempre gostei muito de desenhar. A minha cabeça funciona muito com desenhos, porque através dos desenhos é fácil representar as coisas tal como as vemos e sentimos”, explica Afonso Cruz.

“A minha educação foi sempre direcionada para as artes, até que a determinada altura não me apetecia nada desenhar. Queria estudar Filosofia, mas a minha família não concordou, achava que devia ser artista, e assim continuei”.

Mais tarde, resolveu comprar uma mota e por isso teve de arranjar um trabalho. Começou então a desenhar para filmes de animação. “Como gostava muito de viajar, gastava todo o dinheiro que ganhava a percorrer o mundo”, lembra divertido. Viajou por mais de 60 países, sem máquina fotográfica, porque, como explicou, dessa forma teve de “olhar tudo com a alma” para guardar, não só as imagens, como também os momentos, as emoções de cada local, e isso, nenhuma fotografia consegue registar.

A música entrou na sua vida de uma forma muito natural. Como gosta de música e toca guitarra, um amigo propôs-lhe que gravassem um disco. Aos poucos foram juntando outros músicos, e entretanto formaram uma banda.
Só mais tarde, em 2008, é que publicou o seu primeiro romance “A carne de Deus – Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites”.

Os alunos, encantados com tantas atividades e aventuras, quiseram saber quantas horas por dia Afonso Cruz trabalhava. O escritor respondeu que “não acha que trabalhe demasiado, cerca de oito horas por dia, mas o que acontece é que, o que gosta de fazer nos seus momentos de lazer é ler, desenhar, tocar guitarra e, portanto, acaba por divertir-se trabalhando”. Esta resposta levou à pergunta seguinte: “se tivesse de escolher apenas uma profissão, qual seria?”. O escritor explicou que, para ele, estas formas de arte estão tão ligadas que não as consegue ver em separado; a literatura é uma “ferramenta” mais racional, a música mais emocional e o desenho é o que se pode considerar como a linguagem Universal. “Cada momento, pede um tipo de arte”, concluiu.

Outras questões foram sendo levantadas, como a tradicional “de onde surge a inspiração”; qual seria a próxima viagem a fazer, quais os escritores que mais aprecia, qual o prémio que mais gostou de receber e porquê, entre outras. Afonso Cruz respondeu a todas, de forma facilmente compreensível por tão jovem plateia, usando sempre uma pitada de humor, mas com a sabedoria e erudição dos grandes comunicadores. Um momento que, com certeza estes alunos recordarão, sem necessitarem de recorrer à visualização de uma fotografia.

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