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O Cine-Teatro Garrett acolheu, esta manhã, um painel de luxo para a Mesa 5, subordinada ao tema “O efémero é o novo para sempre”. Afonso Cruz, David Capelenguela, David Machado, Fernando Sobral, Gabriela Ruivo Trindade e Melcior Comes, com moderação de Pedro Teixeira Neves, abordaram o tempo como mote para uma conversa que prendeu a atenção da plateia de início ao fim.

Depois de uma breve e divertida introdução por parte do moderador, que se considerou um “afortunado” por não ter de abordar o conceito “para sempre”, que reconheceu não dominar, foi dada a palavra a Afonso Cruz.

O multifacetado artista introduziu uma série de vídeos familiares para debater a forma como geralmente entendemos o tempo, “uma linha contínua do passado para o futuro”. Através de movimentos repetitivos de crianças a dançar ou de um objeto a funcionar como um pêndulo, é possível vislumbrar que “há movimentos que não têm seta do tempo” e que podem ser reproduzidos do final para o princípio.

Por outro lado, com movimentos fraturantes, “há uma dispersão e irreversibilidade que quebra esta ideia do tempo circular, que se repete infinitamente”, porque “os ovos que se partem não voltam a ficar inteiros e o vinho não retorna à garrafa depois de servido”.  

“O Universo tem a tendência de estragar coisas e o tempo corre nessa direção”, destacou Afonso Cruz para ilustrar a natureza passageira da efeméride, à qual deve ser conferido o seu devido valor e importância.

O poeta angolano David Capelenguela destacou a pertinência do assunto em debate, explicado através das festas de desenho na areia que se realizam anualmente no leste de Angola, nos meses de junho e julho. Trata-se de um “concurso que desafia o tempo. Os artistas alisam a areia, começam o desenho e só podem tirar os dedos do areal quando terminarem o seu trabalho, porque se o fizerem mais cedo são automaticamente eliminados”.

Comprova-se assim que “a vida é um ato transitório e que o presente é sempre eterno, um agora em movimento”, pelo que “temos de fazer hoje, porque amanhã será tarde demais”.

“A vida é breve e a morte está sempre à espera para o artista e sua arte. Portanto, devemos aceitar, honesta e humildemente, que estamos aqui apenas de passagem”, concluiu o recém-eleito secretário-geral da União dos Escritores Angolanos.

David Machado cedo agarrou a plateia do Cine-Teatro com a leitura de um emotivo texto sobre a vida do seu avô, para quem “a vida não escondia qualquer mistério capital, vivendo-a de forma mecânica e sem questionar as leis ancestrais e religiosas”.

“Os dias repetiam-se, cada um era cópia do anterior, numa espécie de compromisso necessário quando se acha que se viverá para sempre”, ilustrou o romancista, que recorda no seu avô alguém que “se queixava o tempo todo, mas não me lembro de o ver triste”.

David Machado apresentou ao público o relato de um “combate permanente com o efémero, uma vida que era para sempre como sempre fora” de uma pessoa que o escritor julgava que “talvez pudesse continuar aqui para sempre”.

“Só o que existe pode ser efémero e somos tão breves como a memória e o amor”, sintetizou perante forte ovação dos presentes.

O renomado escritor e jornalista Fernando Sobral tomou então a palavra, descrevendo-se como “o coiote dos desenhos animados, que tenta desafiar as leis da gravidade, mas acaba sempre por cair”.

Fernando Sobral considera que o dinheiro, “uma ficção criada para a troca de produtos”, veio substituir “a religião, o dever, a igualdade, a liberdade e a justiça”, passando a funcionar como nova forma de medição temporal, que transforma os cidadãos em consumidores.

“Esta sôfrega busca do novo faz-nos viver o efémero. Deixou de haver tempo para o debate. O velho passou a descartável e já nem o novo nos satisfaz. Conhecemos todas as marcas, mas desconhecemos o nome das plantas que nos rodeiam”, frisou, comparando a novidade a uma túlipa, que “tão depressa vive como morre”.

A busca pelo novo é, segundo Fernando Sobral, “um logro”, porque rapidamente “as novas vozes se transformam em velhas e uma notícia mata a outra em cinco minutos”. “Agora, aqui, o futuro parece ser a coisa mais efémera de todas. Sem a cultura, vivemos numa era de empobrecimento radical, na ditadura do efémero e da novidade pela novidade. O tempo tornou-se objeto de consumo e os minutos correm entre eles numa corrida de 100 metros”.

Tentando explicar o “eterno mistério do tempo”, Gabriela Ruivo Trindade, estreante no Correntes d’Escritas, recordou uma frase dita pelo seu filho, em criança: “as tartarugas vivem 300 anos porque andam tão devagar que precisam de mais tempo”.

A romancista, formada em psicologia, entende que a infância é “o reino da eternidade, em que um dia pode durar para sempre”. Da ideia de eternidade vem nova ilusão, “a da infância feliz”, pois “todos achamos que foi o período mais alegre das nossas vidas, porque o ser humano vai sempre recordar aquele tempo eterno que nos transmite esta ideia de felicidade”.

Do português para o castelhano, Melcior Comes teve a seu cargo a última intervenção da manhã. O maiorquino, escritor e professor na Escola de Escrita do Ateneu Barcelonês, considera o tema desta Mesa 3 “uma magnifica definição da literatura e a melhor definição possível para o livro clássico, que pode ser permanentemente significativo e, assim, novo para sempre”.

O autor espanhol considera os escritores uns privilegiados, pois têm “a capacidade de subverter a lógica cronológica e romper a ordem totalitária do tempo e a lógica do efémero”. Deste modo, com a capacidade de reviver o que já foi vivido, este pode “sobreviver à mortalidade através da recordação”.

Não perca pitada do 21º Correntes d’Escritas. Acompanhe o grande evento no portal municipal e no facebook e não deixe de consultar o programa completo.

Aviso: condicionamentos de trânsito

No âmbito de duas intervenções nas saídas do nó da Póvoa de Varzim para a A28, promovidas pela concessionária Norte Litoral, o Município informa para cortes de trânsito nos dias 24, 25, 27 e 28 de março.

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Aviso: condicionalismos de trânsito no dia 24 de março

No dia 24 de março, devido à realização de uma Via-Sacra Pública, estará interdita a circulação de trânsito de todos os veículos a partir das 21h30 e até ao final do evento na Rua Cidade do Porto, Rua Manuel Silva, Praça da República, Rua Dr. Sousa Campos, Praça do Almada, Rua Dr. Leonardo Rodrigues, Rua António Leite Dourado, Rua Flávio Gonçalves, Rua de Costa Júnior, Rua do Senhor do Bonfim, Rua 1.º de Maio, Rua do Cidral e Rua da Conceição.

Aviso: Mercado Municipal

No Dia do Anjo, 10 de abril, e no feriado de 25 de abril, terça-feira, o Mercado Municipal estará encerrado.

Agradece-se a compreensão dos munícipes.

Aviso: circulação condicionada pela Procissão do Senhor dos Passos

Por força da realização da Procissão do Senhor dos Passos, estará interdita a circulação de trânsito e o estacionamento de todos os veículos na Rua Direita, Rua Padrão da Vila e Rua Tomé de Sousa, em Rates, no dia 2 de abril, das 15h00 até ao termo da procissão.

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Aviso: Circulação condicionada pela requalificação da Rua Rocha Peixoto

Desde 16 de novembro, realizam-se os trabalhos de “Arranjo Urbanístico da Rua Rocha Peixoto", que levarão ao corte de trânsito nessa via pelo período de 5 meses, duração prevista da empreitada. 

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