Francisco Duarte Mangas revelou que o seu livro fala sobre a morte das livrarias e de outras marcas da sua identidade da cidade do Porto.

Os poetas “das palavras com vísceras”, grupo que conspira nos cafés da baixa, apercebem-se da mudança brusca e tentam denunciar a nova peste bubónica. Todavia, não são apenas os poetas malditos a mostrar-se preocupados com o novo rumo da Cidade das Livrarias Mortas. A eles juntam-se um velho alfarrabista, um sem-abrigo, o neto de um camaroteiro do Teatro S. João, a dona de pensão despejada pelo senhorio, o presidente da Confraria dos Tascos, um vizinho num prédio de alojamento local, um (alegado) ladrão de livros, um colecionador de edições de A Mãe de Gorki, e o enigmático Homem do Capacete. Cada um conta a sua história, cada um partilha as suas memórias da outra cidade a esvair-se na penumbra. A Cidade das Livrarias Mortas é um primeiro olhar sobre o Porto dos nossos dias.

O escritor falou ainda da referência que faz nesta e outra obra (Pavese no café Ceuta) a Cesare Pavese, autor italiano que admira, e também é referenciado por Clara Usón em O Assassino Tímido.

Maria Manuela Viana, tradutora do livro de Clara Usón, apresentou-o, revelando, antes disso, semelhanças e diferenças entre si e a escritora natural de Barcelona, deixando-a “emocionada”.

O Assassino Tímido é um romance ambientado na Espanha da Transição, que conta uma história baseada no obscuro episódio da morte de Sandra Mozarovski, atriz do cinema de destape – supostamente, por suicídio, aos dezoito anos de idade. Filha de um diplomata russo e relacionada com a alta sociedade da época, o seu caso nunca chegou a esclarecer-se. Este dramático episódio serve de mote à narradora, que nele entrelaça a sua própria juventude desenfreada, a sua complexa relação com mãe e a vida de três personagens inesperados: Camus, Wittgenstein e Pavese.

Clara Usón assumiu que a presença da mãe no romance surge como “um agradecimento póstumo e inútil”, reconhecendo que a sua relação com a mãe não foi boa durante muitos anos e só quando escreveu este romance percebeu que ela era uma vítima do regime opressor – franquismo. “A única que nunca se cansou de mim foi a minha mãe”.

A autora espanhola admitiu ainda que o seu romance é incómodo pois em Espanha não se pode falar do rei.  

Maria Manuela Viana recomendou a leitura do livro não por ser escrito por uma autora tão premiada, mas pela “admirável construção deste O Assassino Tímido que lemos, umas vezes dobrando-nos de riso, outras com os olhos cheios de lágrimas”.

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